sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Senhor do Mundo - Capítulo 5

Segue abaixo mais um capítulo completo de O Senhor do Mundo. Agora é o capítulo 5, o começo da reação católica frente ao novo movimento  liderado por Felsenburgh.


Capítulo 5

Parte 1

Percy Franklin, o novo Cardeal-Protetor da Inglaterra, caminhou lentamente pela passagem da saída dos aposentos do Papa, com Hans Steinmann, o Cardeal-Protetor da Alemanha, ofegante ao seu lado. Eles entraram no elevador, ainda em silêncio, duas figuras amortecidas, uma ereta e viril, a outra encurvada, obesa, e típica alemã, desde os óculos aos sapatos afivelados.

À porta do quarto de Percy, o inglês parou, fez um pequeno gesto de reverência e entrou sem qualquer palavra.

Um secretário, o jovem Sr. Brent, recentemente vindo da Inglaterra, estava de pé quando seu patrono entrou.

"Eminência," ele disse, "os papeis ingleses chegaram."

Percy esticou a mão,pegou os papeis,entrou na sua sala particular e sentou-se.

Lá estavam - - enormes manchetes com quatro colunas de texto quebradas com frases-título surpreendentes em maiúsculas, segundo a moda criada pelos Estados Unidos centenas de anos atrás. Não havia melhor maneira do que esta para informar erroneamente as pessoas menos cultas.

Ele olhou para a parte de cima. Era a edição inglesa do Era. Depois, leu as manchetes. Eram as seguintes:

"O CULTO NACIONAL. ESPLENDOR E PERPLEXIDADE. ENTUSIASMO RELIGIOSO. A ABADIA E DEUS. CATÓLICO FANÁTICO. EX-PADRES COMO FUNCIONÁRIOS."

Ele percorreu com os olhos para a parte debaixo da página, lendo as pequenas frases e compreendendo aquele quadro impressionista dos acontecimentos na Abadia no dia anterior, sobre o qual ele havia sido informado pelo telégrafo, e a cujo propósito havia ocorrido uma reunião com o Santo Padre.

Não havia notícias adicionais e ele estava abaixando a folha de papel quando percebeu um nome.

"Está entendido que o Sr. Francis, o _ceremoniarius_ (a quem todos devem os agradecimentos pelo seu grande zelo e habilidade)), irá se dirigir em breve às cidades do norte para explicar o Ritual. É interessante refletir que este cavalheiro, há apenas alguns meses, estava oficiando em um altar católico. Ele foi assistido em seus trabalhos por vinte e quatro companheiros dotados da mesma experiência."

"Meu Bom Deus!" disse Percy em voz alta.  E aí, abaixou o papel.
Mas seus pensamentos tinham deixado esse renegado para trás, e uma vez mais ele refletia a significância de todo o caso, e
o conselho que ele havia planejado que era seu dever de dar agora pouco no andar de cima.

Em resumo, não adiantava discutir o fato de que a inauguração da adoração Panteísta tinha sido um estupendo sucesso na Inglaterra, como na Alemanha. A França, a propósito, estava ainda muito ocupada com culto dos indivíduos, para desenvolver ideias maiores.

Mas a Inglaterra estava mais imersa nesse aspecto; e, de algum modo, apesar da profecia, o caso tinha acontecido sem toques de banalidade ou grosseria. Tinha sido dito que a Inglaterra era muita sólida, mas de excessivo bom humor. Contudo, tinha havido cenas extraordinárias no dia anterior.

Um grande murmúrio rolou por toda a abadia ao abrirem as cortinas e a grande figura masculina, fantástica e majestosa, colorida com fina arte, estava erguida sobre luzes de velas contra uma tela alta que escondia o santuário. Markenheim tinha feito bem o seu trabalho; e o discurso apaixonado do Sr. Brand tinha preparado adequadamente o espírito popular para a revelação. Ele havia citado em sua peroração passagem após passagem dos profetas judeus, contando sobre a Cidade da Paz, cujos muros agora se erguiam diante de seus olhos.

“_Eleva-se, brilhe, pois tua luz chegou, e a glória do Senhor está derramada sobre ti...Olhem, pois eu crio um novo céu e uma nova terra; e o anterior não deve ser relembrado e não vindo à mente... não deve ser mais vista a violência nesta terra, estragos e destruição dentro de nossas fronteiras. Oh, tu por tanto tempo angustiado, atormentado pela tempestade e sem ser confortado; olhem que eu vou assentar tuas pedras com cores justas, e tuas fundações com safiras... Eu vou fazer tuas janelas de ágata e teus portões de granada, e todas tuas fronteiras de pedras agradáveis. Eleva-se, brilhe, pois tua luz chegou.-“

Ao som dos tinidos dos incensários ecoado naquela tranquilidade, a enorme multidão se ajoelhou e assim permaneceu, quando a fumaça ainda saiu ondulada das mãos daqueles que seguravam os turíbulos. A seguir, o órgão começou a tocar, e o grande coral nos transeptos cantou o hino, interrompido por um grito apaixonado de algum louco Católico. Mas fora silenciado em um instante...

Foi incrível - - completamente incrível, Percy disse para si. Contudo, o incrível tinha acontecido; e a Inglaterra encontrou a sua adoração uma vez mais - - a culminação necessária de subjetividade desimpedida. Das províncias, vinham notícias semelhantes. Em várias catedrais tinham se visto as mesmas cenas. A obra-prima de Markenheim, criada em quatro dias após a aprovação da moção, tinha sido reproduzida maquinalmente e quatro mil réplicas foram despachadas a todo centro importante. Relatos telegráficos fluíam para os jornais de Londres, que em todos os lugares, o novo movimento tinha sido recebido com aclamação, e que os instintos humanos tinham encontrado a expressão adequada finalmente. Se não houvesse um Deus, Percy relembrou, teria sido necessário inventar um. Ele ficou surpreendido, também, pela habilidade com que o novo culto foi elaborado. Não mexia em pontos discutíveis; não havia possibilidade que tendências políticas divergentes barrassem seu sucesso, nenhum excesso de insistência sobre a cidadania, trabalho e outros, para aqueles que eram intimamente individualistas e preguiçosos. A vida era a única fonte e centro de tudo, vestida dos belos mantos do antigo culto. É claro que a ideia vinha de Felsenburgh, embora um nome alemão tinha sido mencionado. Era uma espécie de Positivismo, Catolicismo sem o Cristianismo, o culto ao Humanismo sem sua inadequação. Não era o homem que era adorado, e sim a ideia do homem, privado de seu princípio sobrenatural.O Sacrifício também era reconhecido – o instinto da oblação sem a necessidade feita pela Santidade transcendente sob a culpabilidade do homem... De fato,- - de fato, disse Percy, era exatamente tão sagaz quanto o diabo e tão antigo como Caim.

O aconselhamento que ele havia dado ao Santo Padre foi o de um aconselhamento de desespero, ou de esperança; ele realmente não sabia qual. Ele tinha solicitado que um decreto estrito fosse emitido, proibindo quaisquer atos de violência por parte dos Católicos. Os fieis deveriam ser encorajados a serem pacientes, para se ficarem indiferentes em relação ao culto, para dizerem nada a menos que fossem questionados, e sofrer as aflições com resignação. Ele sugeriu, em conjunto com o Cardeal da Alemanha, que eles dois devessem retornar a seus respectivos países ao final do ano, para encorajar os indecisos; mas a resposta tinha sido que a necessidade deles era a de permanecer em Roma, a menos que algo imprevisto acontecesse.

Quanto a Felsenburgh, havia poucas notícias. Diziam que ele estava no Oriente; contudo mais detalhes já eram secretos. Percy entendeu muito bem por que ele não esteve presente no culto conforme havia sido esperado. Primeiro, teria sido difícil decidir entre os dois países que estabeleceram o culto; e, segundo, ele era um político muito brilhante para arriscar-se a uma possível associação a falhas com a sua própria pessoa; terceiro, estava acontecendo algo importante com o Oriente.

Este último ponto era difícil de entender; ainda não tinha se tornado explícito, mas parecia que o movimento do ano passado não tinha ainda completado seu curso. Era, indiscutivelmente, difícil de explicar as constantes ausências do Presidente de seu país adotado, a menos que houvesse algo que demandava sua presença; mas a extrema discrição do Oriente e as estritas precauções tomadas pelo Império fez com que fosse impossível saber quaisquer detalhes. Era aparentemente ligado à religião; havia rumores, presságios, profetas, êxtases lá.

* * * * *

Sobre si, Percy reconheceu que havia ocorrido nele uma sutil mudança. Ele não mais buscava confiança ou se afundava em desespero. Ele fazia a sua missa, lia o seu calhamaço de correspondências, meditava, e embora ele não sentia nada, ele sabia de tudo. Não havia a menor sombra de dúvida em sua fé, mas não havia emoção nela tampouco. Ele era como um que trabalhava nas profundezas da terra, oprimido até mesmo na imaginação, contudo consciente de que em algum lugar os pássaros cantavam e o sol brilhava e a água corria. Ele compreendia bastante bem seu próprio estado e percebeu que ele tinha chegado a uma realidade de fé que era nova para ele, pois era pura fé – pura apreensão do Espiritual – sem os perigos e as alegrias da visão imaginativa. Ele a expressava para si dizendo que havia três processos através dos quais Deus conduzia a alma: o primeiro era a fé externa, que concorda com todas as coisas apresentadas pela autoridade habitual; o segundo segue a aceleração dos poderes emocional e perceptível da alma, e é iniciado com consolações, desejos, visões místicas e perigos; é neste plano que as resoluções são tomadas e as vocações encontradas e naufrágios experimentados; e o terceiro, misterioso e inexpressivo, consiste no restabelecimento da esfera puramente espiritual de tudo que tenha precedido (como um ato segue após um ensaio), no qual Deus é compreendido, mas não experimentado, a graça é absorvida inconscientemente e até mesmo sem muito gosto, e pouco a pouco o espírito interior é ajustado nas profundezas do seu ser, bem dentro das esferas da emoção e da percepção intelectual, para a imagem e espírito de Cristo.

Agora ele se recostava, pensando, uma figura alta, imponente, escarlate, em sua cadeira funda, olhando por sobre a Sagrada Roma  em meio à névoa de Setembro. Por quanto tempo, ele imaginava, haveria paz? Para seus olhos, até mesmo o ar estava negro com a perdição.

Finalmente, fez tocar seu sino de mão.

“Traga-me o último relatório do Padre Blackmore,” disse ele quando apareceu seu secretário.


Parte 2

As faculdades intuitivas de Percy eram aguçadas por natureza e tinham sido aperfeiçoadas pela cultivo. Ele nunca esquecera as astutas observações do Padre Blackmore um ano atrás; e um dos seus primeiros atos como Cardeal-Protetor tinha sido o de apontar esse padre para a lista dos correspondentes ingleses. Até agora, ele havia recebido algumas dezenas de cartas, e nenhuma delas deixava de ser valiosa. Especialmente, ele tinha notado uma advertência que passava por todas, isto é, que cedo ou tarde, haveria alguma manifestação de reação da parte dos católicos ingleses; e era na lembrança disto que havia inspirado suas veementes súplicas para o Papa nesta manhã. Como nas perseguições romanas e africanas dos primeiros três séculos, assim agora, o maior perigo para a comunidade Católica residia não nas medidas injustas do Governo, mas no zelo indiscreto dos próprios fieis. O mundo desejava nada melhor que uma empunhadura para a sua navalha. A bainha já fora jogada fora.

Quando o jovem tinha trazido as quatroo folhas condensadamente escritas, datadas de Westminster, da noite anterior, Percy olhou rapidamente para o último parágrafo, antes das usuais Recomendações.
“O último secretário do Sr. Brand, Sr. Phillips, a quem sua Eminência me recomendou, veio me visitar por duas ou três vezes. Ele está em um estado curioso. Ele não tem fé; contudo, intelectualmente, ele não vê mais esperança em outro lugar a não ser na Igreja Católica. Ele até mesmo implorou sua entrada na Ordem do Cristo Crucificado, que é, claramente, impossível. Mas não há dúvidas de que ele é sincero; de outra maneira ele não teria professado o Catolicismo. Eu o apresentei a muitos Católicos na esperança de que eles possam ajudá-lo.Eu queria muito que sua Eminência pudesse vê-lo.”

Antes de deixar a Inglaterra, Percy tinha acompanhado a reação que ele havia provocado na reconciliação da Sra. Brand para com Deus, e, havia recomendado ele para o padre. Ele não ficara particularmente impressionado com o Sr. Phillips; ele achava ser uma criatura tímida, indecisa, contudo ele ficara admirado de ver a atitude extremamente altruísta pela qual o homem tinha perdido a sua posição. Deveria ter havido um bom motivo por trás.

E agora havia chegado o impulso de buscá-lo. Talvez, a atmosfera espiritual de Roma iria desencadear a fé. Em qualquer caso, a conversação com o último secretário do Sr. Brand poderia ser instrutiva.

Ele tocou o sino novamente.

“Sr. Brent,” ele disse, “em sua próxima carta ao Padre Blackmore, diga a ele que desejo ver o homem que ele propôs enviar—Sr. Phillips.”

"Sim, Eminência."

"Não há pressa. Ele pode enviá-lo quando puder."

"Sim, Eminência."

"Mas ele não pode vir até Janeiro. Isso dará tempo suficiente, a menos que haja alguma razão urgente."

"Sim, Eminência."

* * * * *

O desenvolvimento da Ordem do Cristo Crucificado havia avançado com sucesso quase miraculoso. O apelo feito pelo Santo Padre para a Cristandade tinha sido como fogo em restolhos. Parecia como se o mundo Cristão tinha alcançado exatamente aquele ponto de tensão, no qual uma nova organização dessa natureza era necessária, e a resposta tinha surpreendido até mesmo o de temperamento sanguíneo. Praticamente, toda a Roma com seus subúrbios—três milhões ao todo—tinha se dirigido às seções de registro na basílica de São Pedro como homens famintos por comida, e desesperados por romper pela entrada. Pois, dia após dia, o próprio Papa tinha se sentado no Trono; uma figura gloriosa, radiante, ficando cada vez mais cansado ao final da tarde, dando sua Benção com sinal silencioso para cada indivíduo da vasta multidão que fervilhava por entre as barreiras, recente do jejum e da Comunhão, para se ajoelhar diante de seu novo Superior e beijar o anel do pontífice.As exigências tinham sido tão estritas quanto as circunstâncias permitiam. Cada postulante era obrigado a se confessar com um padre especialmente autorizado, que examinava profundamente os motivos e a sinceridade, e somente um terço dos aplicantes fora aceito. Isto, as autoridades indicavam, não era de uma proporção excessiva; pois era lembrado de que a maioria desses que havia se apresentado, tinha já passado por um filtro ainda mais exigente. Dos três milhões em Roma, dois milhões, pelo menos, estavam exilados pela sua fé, preferindo viver uma vida obscura e desprezada na sombra de Deus, do que no brilho desolado de seus países infiéis.

Na quinta noite de registro dos noviços, um espantoso acidente aconteceu. O velho Rei da Espanha (o segundo filho da Rainha Vitória), quase à beira do túmulo, tinha se levantado e se dirigido cambaleante ante seu Santo Padre; parecia, por um instante, que ele iria cair, quando o próprio Papa, em um rápido movimento, se levantou, esticou seus braços em direção, passando um _fervorino_ tal como nunca tinha sido ouvido antes na história da basílica.

"_Benedictus Dominus!_" ele clamou, com a face erguida e os olhos brilhantes.
"Abençoado seja o Senhor Deus de Israel, pois Ele nos tem visitado e redimido Seu Povo. Eu, João, Vigário de Cristo, Servo dos Servos, e pecador entre os pecadores, peço que você tenha muita coragem em Nome de Deus. Por Aquele que está na Cruz, prometo vida eterna a todos que perseverem em Sua Ordem. Ele Próprio tem dito isso._Para aquele que se superar, Eu darei a coroa da vida._

"Meus filhos; não temai aquele que mata o corpo. Não há mais o que ele possa fazer. Deus e Sua Mãe estão entre nós...."

Assim derramada a sua voz, dizendo à grande multidão assombrada sobre o sangue que já tinha sido espalhado naquele lugar onde eles estavam, sobre o corpo do Apóstolo que jazia a uns cinquenta metros ali perto, urgindo, encorajando, inspirando. Eles tinham se comprometido até a morte, se fosse Vontade de Deus; e se não, a intenção seria considerada para o ato. Eles estavam sob obediência agora; as vontades deles não eram mais deles e sim de Deus; sob castidade—pois os corpos deles foram comprados por um preço; sob a pobreza, e eles estariam no Reino dos Céus.

Ele havia finalizado com uma grande Bênção da Cidade e do Mundo; e não haveria menos de meia dúzia de fiéis que haviam visto, assim se achava, uma figura branca na forma de um pássaro que ficara no ar, enquanto ele falava, branca como uma névoa, translúcida como água....

As cenas consequentes na cidade e nos subúrbios nunca haviam sido vistas antes, pois milhares de famílias tinham com um único consentimento, dissolvido as disputas humanas. Os maridos foram levados para as grandes residências no Palácio do Quirinal, separadas para eles. As esposas para o Aventino; enquanto que as crianças, tão confiantes como seus pais, tinham sido espalhadas pelas residêncis das Irmãs de São Vicente, que haviam, de acordo com as ordens do Papa, a liberação de três ruas para abrigá-las.

Em todos os lugares, a fumaça de queimadas subia nas praças, onde propriedades familiares, consideradas inúteis pelos votos de pobreza, eram consumidas pelos últimos donos; e diariamente, grandes trens saiam da estação para fora dos muros, levando pessoas exultantes, despachadas pelos delegados do Papa, para serem o sal dos homens, dedicados na função, e fermento por dentro das vastas extensões do mundo infiel. E aquele mundo infiel dava boas vindas à chegada deles com sorriso amargo.

Do resto da Cristandade, chegavam notícias de sucesso. As mesmas precauções tinham sido observadas em Roma, pois os procedimentos emitidos eram precisos e minuciosos; e dia após dia, chegavam muitos relatos de informações da nova Religião, descrita pelos superiores diocesanos.

Nos últimos dias, haviam chegado outros relatos, ainda mais gloriosos. Não somente vinham relatórios, mas também a Ordem já começara seu trabalho,
e que comunicações cortadas estavam sendo restabelecidas, missionários devotados estavam em processo de se organizarem, e a esperança estava uma vez mais crescente nos mais desesperados corações; mas, melhor que tudo, eram as notícias de vitória em uma outra esfera.Em Paris, quarenta da Ordem recém-criada tinham sido queimados vivos em um dia na localização da parte Latina, antes que o Governo pudesse intervir. Da Espanha, Holanda e Rússia vinham outros nomes. Em Dusseldorf, dezoito homens e rapazes, surpreendidos ao cantarem, na igreja de São Lourenço, a primeira das horas canônicas, foram lançados um a um no esgoto da cidade, cada um cantando ao desaparecerem:

"_Christi Fili Dei vivi miserere nobis,_"

e da escuridão vinha a mesma canção até que fora silenciada por pedras. Enquanto isso, as prisões alemãs estavam ficando cheias dos primeiros lotes de recusantes. O mundo encolhia os ombros, e declarava que eles tinham pedido por isso, depreciando atos de violência e tumulto, pedindo a atenção das autoridades e uma repressão decisiva desta nova conspiração de supertições. E dentro da igreja de São Pedro, os trabalhadores estavam ocupados nas longas fileiras dos novos altares, afixando nos dípticos de pedra os nomes forjados em latão daqueles que tinham já cumprido suas promessas e ganhado suas coroas.

Era a primeira palavra da resposta de Deus para o desafio do mundo.

* * * * *

Com o Natal passando, fora anunciado que o Soberano pontífice iria fazer uma grande missa no último dia do ano, no altar papal de São Pedro, em nome da Ordem; e as preparações começaram a ser feitas.
Era para ser uma espécie de inauguração pública do novo empreendimento; e, para o assombro de todos, foi feita uma convocação especial para todos os membros do Colégio Sagrado, ao redor do mundo, para estarem presentes, a menos que estivessem impedidos por alguma doença. Parecia que o Papa estava determinado de que o mundo deveria entender que havia sido declarada uma guerra; pois, embora a determinação não envolvesse a ausência de qualquer Cardeal da sua província por mais de cinco dias, muitas inconveniências certamente resultariam. Contudo, tinha sido dito e deveria ser feito.

* * * * *

Fora um estranho Natal.

Percy foi solicitado a ajudar o Papa em sua segunda missa, e ele mesmo fez a sua Terceira à meia noite em seu próprio oratório particular. Pela primeira vez na sua vida, ele presenciou aquilo que tinha ouvido tantas vezes, a maravilhosa procissão pontifical do velho mundo, iluminada por tochas, indo pelas ruas do Latrão a St. Anastácia, onde o Papa, nos últimos anos, havia restabelecido um antigo costume, descontinuado por quase um século e meio. A pequena basílica estava reservada, é claro, em todos os cantos para os peculiarmente privilegiados; mas as ruas do lado de fora, ao longo do caminho inteiro da Catedral até a igreja—e, na verdade, os outros dois lados do triângulo também, eram uma densa massa de cabeças silenciosas e tochas flamejantes. O Santo Padre era atendido no altar pelos soberanos usuais; e Percy, do seu lugar, assistia o drama celestial da Paixão de Cristo sendo desempenhado através do véu da Sua natividade nas mãos do Seu velho e Angélico Vigário. Era difícil de perceber o Calvário ali; era certamente os ares de Belém, a luz celestial, não a escuridão sobrenatural, que se irradiava ao redor do simples altar. Era a Criança, chamada Maravilhosa, que estava ali, debaixo das velhas mãos, em vez do abatido Homem das Dores.

_Adeste fideles_ cantou o coro da tribuna.—Venha, vamos adorar, em vez de chorar; vamos exaltar, estar satisfeitos, sermos como pequenas crianças. Como Ele para nós se tornou uma criança, vamos nos tornar infantis para Ele.
Vamos vestir roupas da infância e sapatos da paz._ Pois o Senhor tem reinado; Ele está adornado de beleza: o Senhor está guarnecido de força e Ele tem se cingido. Ele estabeleceu o mundo o qual não deve ser mudado: Seu trono está preparado desde os tempos passados. Ele é do eterno. Regozijem grandemente então, Ó filha de Sião, grite de alegria, Ó filha de Jerusalém; contemple teu Rei que está vindo, para ti, o Sagrado, o Salvador do mundo._Haverá tempo, então, para sofrer por um breve tempo, quando o Príncipe deste mundo se deparar com o Príncipe dos Céus.

Assim refletia Percy, ficando à parte em seu deslumbramento, se esforçando para se fazer pequeno e simples. Certamente, nada era difícil demais para Deus! Não poderia este místico Nascimento uma vez mais fazer o que tinha feito antes—trazer à sujeição, através do poder da sua fraqueza, toda a coisa orgulhosa que se exalta sobre tudo aquilo que é chamado Deus? Arrastou os sábios magos uma vez através do deserto, assim como os pastores dos seus rebanhos. Tinha reis ali agora, ajoelhando-se com os pobres e tolos, reis que haviam tirado suas coroas, que trouxeram o ouro de corações leais, a mirra do martírio desejado e o incenso de uma pura fé.
As repúblicas não poderiam, também, colocar de lado seus esplendores, tumultos serem dominados, egoísmo ser negado e sabedoria confessar sua ignorância?...

Depois, ele se lembrou de Felsenburgh; e seu coração se enfraqueceu por dentro.


Parte 3

Seis dias depois, Percy levantou-se como sempre, fez sua missa, tomou café da manhã e depois sentou-se no escritório até seu secretário convocá-lo para se aprontar para a missa Pontifical.

Ele já se acostumara a esperar más notícias constantemente—de apostasias, mortes, perdas—que a calmaria da semana anterior tinha vindo a ele com extraordinário alívio. Pareceu para ele como se suas reflexões em St. Anastácia tinham sido mais verdadeiras que ele pensara, e que a doçura da velha festividade não tinha ainda totalmente perdido seu poder, até mesmo de um mundo que negava sua substância. Pois nada mesmo tinha acontecido de importância. Alguns outros martírios tinham sido confirmados, mas eles tinham sido casos isolados; e sobre Felsenburgh não havia nada de notícias. A Europa confessou sua ignorância de seus assuntos.

Por outro lado, amanhã, Percy sabia muito bem, seria um dia de momentos extraordinários na Inglaterra e na Alemanha de qualquer forma; pois na Inglaterra fora designada a primeira ocasião do culto obrigatório por todo o país, enquanto que era a segunda na Alemanha. Homens e mulheres teriam que se declarar agora.

Ele havia visto na noite anterior uma fotografia da imagem que deveria ser cultuada no dia seguinte na Abadia; e, fez ele sentir um ataque de repulsa e cortá-la em pedaços. Representava uma mulher nua, enorme e majestosa, fascinantemente bela, com cabeça e ombros jogados para trás, como um que vê uma visão estranha e celestial, braços esticados para baixo e mãos um pouco levantadas, com dedos abertos, como em admiração—a atitude toda, com os pés e joelhos apertados juntos, sugerindo expectativa, esperança e surpresa; em zombaria diabólica seus cabelos compridos estavam coroados com doze estrelas. Isto, então, era a esposa do outro, a personificação do maternidade ideal do homem, ainda esperando pelo seu filho...

Quando os restos do papel jaziam como neve venenosa a seus pés, ele saltou até o outro lado da sala para seu _prie-dieu_,e de joelhos em uma agonia de reparação.

“Oh! Mãe, Mãe!”, gritou ele para a figura da Rainha dos Céus, que, com Seu Filho verdadeiro em seus braços, olhou para ele do seu consolo—não mais do que isso.

* * * * *

Mas ele estava calmo novamente nessa manhã, e celebrou São Silvestre o Papa e o Mártir, o último santo na procissão do ano Cristão, com tolerável equanimidade. As visões da noite passada, a multidão dos oficiais, as figuras escarlates imponentes dos Cardeais, que tinham vindo do norte, sul, leste e oestes—eles ajudavam a tranquilizá-lo novamente—irracionalmente, como ele sabia, contudo eficazmente. O próprio ar estava elétrico com expectativas. Em todas as noites, a praça estava com uma grande multidão, silenciosa, esperando a abertura das portas às sete horas.
Agora a própria igreja estava cheia, e a praça cheia de novo. Mais adiante na rua, em direção ao rio, até onde ele podia ver ao debruçar pela janela, havia os solenes e imóveis amontoados de pessoas. O teto da colunata mostrava faixas delas, os tetos das casas estavam cobertos—e isto em uma manhã fria, pois fora anunciada, que após a missa e a passagem dos membros da Ordem pelo Trono do Pontífice, o Papa iria dar a Bênção Apostólica para a Cidade e para o Mundo.

Percy terminou a Terça, fechou seu livro e recostou-se; seu secretário estaria ali dentro de minutos.
Sua mente começou a pensar sobre o evento, e refletia que o inteiro Colégio Sagrado (com a exceção do Cardeal-Protetor de Jerusalém, que não veio por estar adoentado), com cerca de sessenta e quatro membros, tomaria parte. Isto significaria uma visão única, eventualmente. Oito anos antes, ele se lembrava, depois da liberdade de Roma, tinha ocorrido uma reunião similar; mas os Cardeais, naquela vez, não eram mais que cinquenta e três ao todo, quatro tinham estado ausentes.

Depois, ele ouviu vozes na ante-sala, um passo rápido, e uma alta repreensão em inglês. Isso era estranho e sentou-se ereto.

A seguir, ouviu uma frase.

"A Sua Eminência tem que por sua vestimenta; não adianta."

Houve uma resposta severa, um leve arrastar de pés e agarrarem a manivela da fechadura. Isto era reprovável; assim Percy ficou de pé, deu três passos em direção à porta e a abriu.

Um homem estava lá, a quem a princípio ele não reconheceu, pálido e desordenado.

“Ora---“, disse Percy, se recolhendo.

"Sr. Phillips!", disse ele

O outro estendeu as mãos.

“Sou eu, senhor—sua Eminência—o momento chegou. É vida e morte. Seu secretário me disse---“

"Quem te enviou?"

"O Padre Blackmore."

"Boas ou más notícias?"

O homem tornou seus olhos para o secretário, que ainda estava ali de pé e ofendido a um metro de distância; e Percy compreendeu.

Ele o arrastou com o braço para dentro, tirando-o da entrada da parta.

“Bata nesta porta em dois minutos, James,” ele disse.

Eles caminharam juntos pelo chão lustrado; Percy foi para seu lugar usual na janela, debruçou na folha da janela e falou.

“Diga-me em uma frase, senhor,” disse ele para o homem ofegante.

“Há uma plano correndo por entre os Católicos. Eles querem destruir a Abadia amanhã com explosivos. Eu sei que o Papa---“

Percy o interrompeu com um gesto.


FIM DO CAPÍTULO 5 – SENHOR DO MUNDO.








quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Senhor do Mundo - Capítulo 4º


CAPÍTULO  IV


Parte 1


Oliver Brand, sentado em seu escritório particular em Whitehall, esperava uma visita. Já eram quase dez da manhã, e, dali a meia hora, ele deveria estar na Câmara. Ele esperava que o Sr. Francis, ou quem mais ele poderia ser, não o detesse por muito tempo. Agora, todo o momento era momento de descanso, visto que o trabalho tinha sido simplesmente enorme durante as últimas semanas.

Mas ele não ficou aliviado nem além de um minuto, pois o último estampido vindo da Victoria Tower estava desvanecendo, quando a porta abriu e uma voz secretarial informou o nome da pessoa a quem ele estava esperando.

Oliver deu uma olhada rápida no estranho, para suas pálpebras caídas e boca amolecida, formando uma rápida opinião sobre ele durante o momento em que estavam sentados, e logo partiu para o assunto.

“Daqui a vinte e cinco minutos, senhor, eu tenho que deixar o escritório,” disse ele.
“Até então---“  fez um pequeno gesto.

O Sr. Francis o assegurou.

“Obrigado, Sr. Brand—é tempo o bastante. Então, se me der licença—“ ele procurou algo no bolso do paletó, retirando um envelope comprido.

“Vou deixar isso com você,” disse ele, “quando eu sair. Aqui estão especificados todos os nossos desejos e nossos nomes. E isto é o que eu tenho de dizer, senhor.”

Ele reclinou-se no assento, cruzou as pernas, e continuou, com um toque de ansiedade na voz.

“Venho de parte de uma delegação, como sabe,” disse ele. “Nós temos algo para pedir e para oferecer. Fui escolhido porque a ideia partiu de mim. Primeiro, posso lhe fazer uma pergunta?"

Oliver assentiu.

“Quero perguntar nada do que não deva. Mas eu creio que está praticamente certo, não?—que  o Culto Divino deve ser restaurado por todo o reino?”

Oliver sorriu.

“Eu suponho que sim,” disse ele. “A moção foi lida pela terceira vez, e, como você sabe, o Presidente deve falar sobre isso nesta noite.”
“Ele não irá vetar?”

“Suponho que não. Ele consentiu na Alemanha.”

“Extamente,” disse Sr. Francis. “E se ele consentir aqui, suponho que se tornará lei imediatamente.”

Oliver inclinou-se sobre a mesa, e pegou o papel verde que continha a Moção.

“Você tem isto, é claro---“ disse ele. “Bem, vai se tornar rapidamente; e a primeira festividade será observada em 1° de Outubro. ‘Paternidade,’ não é? Sim, Paternidade.”

“Haverá uma pouco de correria, então,” disse o outro, ansioso. “Ora, isso é daqui apenas a uma semana.”

“Eu não sou responsável por este departamento,” disse Oliver, colocando o papel da moção de novo na mesa. “Mas eu creio que o ritual já estará em uso na Alemanha. Não há razão por que devemos ser diferentes.”

“E a Abadia será usada?”

"Sim, claro."

"Bem, senhor," disse o Sr. Francis, “claro que eu sei que a Comissão do Governo estudou isso muito de perto, e não há dúvida que tem seus próprios planos. Mas me parece que eles querem passar por toda a experiência que puderem."

"Sem dúvida."

“Bem, Sr. Brand, a sociedade, a qual eu represento, consiste inteiramente de homens que já foram padres católicos. Chegamos ao número de 200 em Londres. Vou deixar um panfleto com você, com sua licença, onde declaramos nossos objetivos, nossa constituição e outras coisas. Nos pareceu que aqui haveria um assunto, no qual nossa experiência passada poderia ser útil ao Governo. As cerimônias católicas, como sabe, são muito complexas, e alguns de nós as estudamos muito profundamente nos velhos tempos. Costumávamos dizer que já nasciam os Mestres de Cerimônias  e não eram formados, e nós temos um bom número desses entre nós. Mas, na verdade, todo padre é um pouco  cerimonialista.”

Ele pausou.

“Sim, Sr. Francis?”

“Estou certo que o Governo entende a imensa importância de que tudo ande tranquilo. Se o Serviço Divino for torto e desordenado, vai acabar com seu próprio objetivo. Assim, fui convocado para vê-lo, Sr. Brand, e para sugeri-lo de que aqui existem pessoas—considere pelo menos vinte e cinco—que tiveram experiência especial neste tipo de coisa, e estão perfeitamente prontas para se colocarem à disposição do Governo.”

Oliver não pode resistir a um pequeno sorriso no canto da sua boca. Havia um tom de ironia, ele pensava, mas parecia bastante razoável.

“Entendo perfeitamente, Sr. Francis. Parece uma sugestão razoável. Mas eu não acho que seja a pessoa apropriada. Mr. Snowford— "

“Sim, sim, senhor, eu sei. Mas o seu discurso, em um dia atrás,  nos inspirou a todos. O senhor disse exatamente o que estava em nossos corações—que o mundo não poderia viver sem um culto, uma adoração; e que agora encontramos Deus finalmente---"

Oliver acenou com a mão, pois odiava a mais leve lisonja.

“É muita bondade sua, Sr. Francis. Irei certamente falar com Sr. Snowford. Eu compreendo que vocês se oferecem como – como Mestres de Cerimônias--?"

“Sim, senhor; e sacristãos. Eu tenho estudado o ritual alemão com muito cuidado; é mais elaborado do que eu havia pensado. Vai precisar de bastante habilidade. Imagino que o senhor irá querer pelo menos uma dezena de_Ceremoniarii_  na Abadia, e mais uma dúzia nas sacristias não seria demais."

Oliver concordou, olhando com curiosidade para a figura patética e ansiosa da pessoa com quem falava; contudo ela possuía algo mais, aquele olhar sacerdotal dissimulado, que ele tinha visto antes em outros como ele. Este era realmente um devoto.

"Vocês são todos Maçons, é claro?" disse ele.

"Ora, é claro, Sr. Brand."

"Muito bem. Vou falar com Sr. Snowford hoje se eu puder vê-lo."

Ele deu uma olhadela no relógio. Restavam ainda três ou quatro minutos.

“O senhor deve ter visto a nova nomeação em Roma,” continuou Sr. Francis.

Oliver balançou a cabeça negativamente. Ele não estava particularmente interessado em Roma nesse momento.

“O Cardeal Martin está morto—ele faleceu na Terça—e sua vaga já foi preenchida.”.

"É mesmo?"

“Sim—o novo homem já foi meu amigo uma vez—Franklin, seu nome é—Percy Franklin.”

"Hã?"

"Qual o problema, Sr. Brand? O senhor o conhecia?"

Oliver olhava para ele de modo sombrio, um pouco pálido.

“Sim, eu o conheci,” disse calmamente. “Pelo menos, acho que sim.”

“Ele esteve em Westminster  um ou dois meses atrás.”

“Sim, sim, “ disse Oliver, ainda olhando para ele. “E você o conhecia, Sr. Francis?”

“Eu o conhecia—sim.”

“Ah!—bem, eu gostaria de conversar algum dia a respeito dele.”

Ele hesitou. Ainda queria um pouco mais de tempo.

“E isso é tudo?” ele perguntou.

“É tudo que eu precisava falar, senhor,” respondeu o outro. “Mas espero que permita-me dizer o quanto apreciamos o que tem feito, Sr. Brand. Não acho possível para ninguém, exceto nós próprios, entender o que a perda do culto significa para nós. Foi muito estranho no começo---“

Ele tremeu a voz e parou. Oliver se sentiu interessado e parou em seu movimento de se levantar.

“Sim, Sr. Francis?”

Os olhos castanhos melancólicos se viraram para ele.

“Foi uma ilusão, é claro, senhor—nós sabemos disso. Mas eu, de qualquer forma, ouso pensar que não foi tudo desperdiçado—todas nossas aspirações, penitência e louvor. Nós interpretamos errado o nosso Deus, mas nós o Alcançamos—achamos o caminho para o Espírito do Mundo. Nos ensinava que o indivíduo não era nada e que Ele era tudo. E agora---“

“Sim, senhor,” disse o outro calmamente. Ele estava realmente emocionado.

Os tristes olhos castanhos se abriram completamente.

“E agora o Sr. Felsenburgh chegou.”  Ele engoliu a saliva. “Julian
Felsenburgh!" Havia uma enorme paixão na sua voz e o próprio coração de Oliver respondeu.

"Eu sei, senhor," disse ele; "Eu sei tudo que você quer dizer."

"Oh! Ter um Salvador finalmente! “ clamou Francis. "Um que podemos ver, tocar e louvar! É como um sonho—bom demais para ser verdade!”

Oliver olhou para o relógio, levantou-se rapidamente, e estendeu a mão.

“Perdoe-me, senhor, tenho que sair. Você me emocionou muito profundamente… Vou falar com o Snowford. Seu endereço está aqui, certo?”

Ele apontou para os papeis.

“Sim, Sr. Brand. Há mais uma pergunta.”

“Não posso ficar mais, senhor,” disse Oliver, balançando a cabeça.

“Um instante—é verdade que esse culto será obrigatório?”

Oliver confirmou com a cabeça ao reunir os seus papeis.


Parte 2

Mabel, sentada na galeria naquela noite, atrás do local onde estaria o Presidente, tinha já olhado no relógio meia dúzia de vezes na última hora, esperando a cada instante que as vinte e uma horas estivessem mais próximas. Ela já sabia que o Presidente da Europa não estaria nem meio minuto atrasado ou adiantado. A suprema pontualidade dele era famosa em todo o continente. Ele tinha dito vinte e uma, assim teria que ser vinte e uma.

Um toque de sino na parte de baixo e, em um momento, a voz arrastada  do porta-voz cessou. Uma vez mais, ela levantou o pulso, viu que faltavam 5 minutos para a hora; assim, ela se inclinou do seu canto para olhar  para a Câmara.

Houve uma grande mudança no comportamento após o toque do sino. Os membros nas fileiras começaram a trocar de lugar e se arranjarem com mais decoro, descruzando as pernas, colocando os chapéus debaixo dos babados de couro. Ela também viu o Presidente da Casa descer os três degraus da sua cadeira, pois um Outro iria usá-la dentro de alguns momentos.

A Casa estava completamente lotada; um retardatário entrou depressa, vindo da porta do lado sul, olhou ao seu redor na claridade antes de ver seu lugar vago. As galerias ao fundo estavam ocupadas também, onde ela não havia conseguido achar um lugar. Contudo, apesar da quantidade de pessoas, não havia barulho a não ser sussurros. Das passagens atrás, ela podia novamente ouvir a nota dos sinos se repetir enquanto as áreas dos lobbies eram esvaziadas; e do lado de fora, na praça do Parlamento, vinha o pesado murmúrio da multidão, que esteve inaudível pelos últimos vinte minutos. Quando esse cessou, ele sabia que ele havia chegado.

Como era estranho e maravilhoso estar ali—naquela noite aonde o Presidente iria se pronunciar! Um mês atrás, ele havia aprovado uma moção similar na Alemanha e tinha dado um discurso sobre o mesmo assunto em Turim. Amanhã, ele deveria estar na Espanha. Ninguém sabia onde ele esteve na semana passada. Havia um rumor de que seu volor  tinha sido visto sobre o Lago Como, mas logo foi desmentido. Ninguém sabia o que ele iria dizer hoje à noite. Poderiam ser três palavras ou vinte mil. Havia algumas cláusulas na Moção—notavelmente aquelas que determinavam quando o novo culto deveria ser obrigatório a todas as pessoas acima dos sete anos—que ele poderia objetar e vetar. Nesse caso, tudo deveria feito novamente, e a Moção repassada, a menos que a Casa aceitasse as emendas dele instantaneamente por aclamação.

A própria Mabel estava inclinada a essas cláusulas. Elas estabeleciam que, embora o culto devesse ser oferecido em toda paróquia da Inglaterra no primeiro dia do mês de Outubro, não deveria ser obrigatório a todas as pessoas até o Ano Novo; enquanto que a Alemanha, que havia aprovado a Moção um mês antes, já tinha colocado em vigência imediata, assim forçando todos os seus católicos a duas opções: deixar o país sem demora ou sofrer as penalidades. Essas penalidades não eram vingativas: no primeiro delito, seria dada uma detenção de uma semana, no segundo, prisão por um mês, no terceiro, por um ano e no quarto, prisão perpétua até que o delinquente cedesse. Esses eram períodos de tempo misericordiosos, assim pareciam, pois até mesmo o próprio aprisionamento significava nada mais que um confinamento razoável e emprego em obras do Governo. Não havia horrores medievais; e a solicitação para o ato de adoração, do culto, era tão pequena, também; consistia de não mais que a presença física na igreja ou na catedral nos quatro novos festivais da Maternidade, Vida, Sustento e Paternidade, celebrados no primeiro dia de cada trimestre. O culto aos Domingos deveria ser puramente voluntário.

Ela não conseguia entender como qualquer pessoa poderia deixar de respeitar isso. Essas quatro coisas eram fatos—elas eram as manifestações do que ela chamava de Espírito do Mundo—e se outros chamavam este Poder de Deus, contudo certamente estas deveriam ser consideradas como Suas celebrações. Onde então estava a dificuldade? Não era que o culto cristão não fosse permitido, sob as atuais normas. Os Católicos ainda podiam ir à missa. E, contudo, coisas espantosas estavam acontecendo na Alemanha; não menos que doze mil pessoas tinham deixado o país em direção a Roma; e havia o rumor que quarenta mil iriam recusar a aceitar as novas normas. Isso a deixava chateada, e com raiva só de pensar.

Para ela, o novo culto era o coroamento do triunfo do Humanismo. Seu coração havia ansiado por coisas como essa. Ela tinha ressentido o tédio das pessoas, que estavam satisfeitas com as atividades nunca consideravam as suas origens. Certamente, esse instinto dentro dela era verdadeiro; ela desejava ficar ao lado de seus companheiros em algum local solene, consagrado não por padres, mas pela vontade do homem; ter como inspiração coisas como o doce canto e o som dos órgãos; proferir as suas dores com milhares ao lado dela, face sua própria fraqueza de imolação diante do Espírito de todos; cantar em voz alta seu louvor pela glória da vida, e oferecer em sacrifício e incenso uma homenagem emblemática para Aquele do qual ele recebeu o seu ser, e para quem um dia, ela deveria entregar-se novamente.

Ah! Esses cristãos haviam entendido a natureza humana, ela dizia a ela centenas de vezes: era verdade que eles a tinham degradado, ofuscado a luz, envenenado o pensamento, interpretado mal o instinto; mas eles tinham entendido que o homem deve adorar---deve adorar ou afundar.

Ela tencionava ir pelo menos uma vez por semana até a pequena igrejinha a cerca de 800 metros da sua casa, para se ajoelhar  ante o santuário iluminado pelo sol, para meditar sobre os doces mistérios, para se apresentar para Aquilo a quem ela ansiava amar, e para beber, se fosse possível, novos goles de vida e poder.

Ah! Mas a Moção tem que ser aprovada primeiro…Ela agarrou o corrimão com força e olhou com firmeza para diante dela, para as fileiras de rostos, as escadas vazias, o grande martelo na mesa, e ouviu , por sobre o murmúrio da multidão do lado de fora e o silêncio ali dentro, a batida do seu próprio coração.

Ela sabia que não podia vê-lo. Ele viria pela porta de trás, que ninguém a não ser Ele podia usar, direto para o banco debaixo do pálio. Mas ele ouviria a Sua voz – o que deveria ser uma alegria grande para ela...

Ah! Agora havia silêncio lá; o murmúrio tinha cessado. Ele tinha chegado, então. E com olhos lacrimejantes, ela viu as longas fileiras de cabeças se levantarem e ouviu os passos de muitos pés. Todos os rostos olhavam para esse lado; e ela os via como a um espelho para ver a luz refletida da Sua presença. Houve um pequeno soluçar em algum lugar no ar—era seu ou de outra pessoa?... o clique de uma porta se abrindo; o estampido suave acima, choque após choque, aos enormes sinos baterem três vezes; e, em um instante, sobre as faces pálidas passou uma ondulação, como se alguma brisa de paixão mexesse com suas almas por dentro; houve uma pequena movimentação aqui e ali, e a voz desapaixonada falou meia dúzia de palavras em Esperanto:

“Ingleses, eu aprovo a Moção do Culto.”


Parte 3

Foi apenas no café da manhã do meio dia, na manhã seguinte, que marido e esposa se encontraram de novo. Oliver tinha pousado na cidade e telefonou cerca das onze horas de que ele iria para casa depois, levando um convidado com ele: e logo antes do meio dia, ela ouviu vozes na entrada da porta.

Sr. Francis, que fora apresentado a ela, parecia uma espécie de homem inofensivo, ela pensou, não interessante, embora ele parecesse sincero em relação à Moção. Só depois do café da manhã quase acabado, foi que ela entendeu quem ele era.

“Não vá, Mabel,” disse seu marido, ao ela fazer um movimento de sair. “Você gostará de ouvir isso, eu acho. Minha esposa sabe tudo que eu sei,” ele complementou.

Sr. Francis sorriu e concordou.

“Eu posso dizer a ele sobre você?” disse Oliver de novo.

“Claro, certamente.”

Então, ela ouviu que ele havia sido um padre católico faz alguns meses, e que o Sr. Snowford o estava consultando sobre as cerimônias na Abadia. Ela ficou rapidamente interessada ao ouvir isso.

“Oh! Por favor, fale,” disse ela. “Eu quero ouvir tudo.”

Parecia que o Sr. Francis tinha visto o novo Ministro do Culto Público naquela manhã e tinha recebido dele uma comissão definitiva para cuidar das cerimônias em 1° de Outubro. Duas dezenas de seus colegas, também, foram convocadas para o _ceremoniarii_,  pelo menos temporariamente—e depois do evento, eles seriam enviados para uma viagem de palestras a fim de organizar o culto nacional por todo o país.

É claro que as coisas seriam desorganizadas a princípio, disse o Sr. Francis; mas ao redor do Ano Novo, era esperado que tudo estivesse em ordem, pelo menos nas catedrais e cidades principais.

“É importante, “ disse ele, “que isso deva ser feito tão logo seja possível. É muito importante que se faça uma boa impressão. Há milhares de pessoas que tem o instinto do culto, sem saber como satisfazê-lo.”

“Isto é bastante verdade,” disse Oliver. “Tenho sentido isso há muito tempo. Eu suponho que seja o instinto mais profundo do ser  humano.”

“Quanto às cerimônias---“ continuou o outro, com um ar levemente importante. Seus olhos vagaram por um momento, e depois ele levou a mão ao bolso do paletó, e tirou um livro fino de capa vermelha.

“Esse é o Livro da Ordem do Culto para a Festividade da Paternidade,” disse ele. “Eu intercalei algumas folhas em branco, onde fiz algumas anotações.”

“Ele começou a virar as páginas, e Mabel, com grande emoção, arrastou sua cadeira mais perto para ouvir.”

“Está bem, senhor,” disse ela. “Agora nos dê uma pequena palestra.”

O Sr. Francis fechou o livro no seu dedo, puxou o seu prato para o lado e começou a falar.

“Primeiro, disse ele, “nós devemos lembrar que esse ritual é baseado quase que inteiramente com o dos Maçons." Três quartos, pelo menos, da cerimônia inteira serão para esse ritual. O _ceremoniarii_ não interferirão nisso, além do ato de providenciar que a insígnias estejam prontas nas sacristias e corretamente colocadas. Os oficiais apropriados conduzirão o restante... Eu não preciso falar disso, então. As dificuldades começam com o último quarto do ritual.”

Ele pausou, com olhar de desculpas, arrumando os talheres e os copos diante dele sobre a toalha da mesa.

“Agora aqui,” disse ele, “nós temos o velho santuário da abadia. No lugar dos retábulos e da mesa da Comunhão, será construído um grande altar sobre o qual diz o ritual, com os degraus saindo do chão levando até ele. Atrás do altar—se estendo quase até o santuário do confessor—irá ficar o pedestal com uma figura emblemática sobre ele, e—até onde eu entendi pela ausência de informações—cada tal figura irá ficar no local até a véspera da próxima festividade trimestral."

“Que tipo de figura?”, perguntou  mulher.

Francis olhou para o seu marido.

“Eu creio que o Sr. Markenheim foi consultado,” disse ele. “Ele irá projetar e executá-los. Cada um deve representar sua festividade. Este para a Paternidade---"

Ele pausou novamente.

“Sim, Sr. Francis?”

“Esta, eu entendo, ser a figura nua de um homem.”

“Uma espécie de Apolo—ou Júpiter, minha querida,” disse Oliver.

Sim—parece certo, pensou Mabel. A voz do Sr. Francis se apressou.

“Uma nova procissão entra nesse ponto, após o sermão,” ele disse. “É isto que irá precisar de especial orientação. Eu suponho que não será possível ensaio?”

“Pouco provável,” disse Oliver, sorrindo.

O Mestre de Cerimônias suspirou.

“Eu temia que não fosse. Então, nós devemos divulgar instruções impressas muito precisas. Aqueles que tomarem parte, irão se retirar, eu imagino, durante o hino, para a velha capela de St. Faith. Isso é que me parece ser melhor.”

Ele indicou a capela.

“Depois da entrada da procissão, todos tomarão os seus lugares em ambos estes lados---aqui—e aqui--- enquanto o celebrante com os ministros sacros---

"Como?"

O Sr. Francis fez um leve trejeito no rosto, ruborizando um pouco.

"O Presidente da Europa---" ele interrompeu. "Ah! Esse é o ponto. O Presidente irá tomar parte? Isto não está claro no ritual."

"Achamos que sim," disse Oliver. "Ele deve ser abordado a esse respeito."

"Bem, se não for, eu suponho que o Ministro do Culto Público irá oficiar.
Ele, com seu pessoal de apoio, passam direto para o pé do altar. Lembre-se de que a figura ainda estará velada, e que as velas estarão acesas durante a aproximação da procissão;daí seguem as Ejaculações devidamente impressas no ritual e o hino. Esses são cantados pelo coro, e serão admiráveis, eu creio. Depois, o oficiante sobe ao altar sozinho, e de pé, declama o Sermão, como é chamado. No encerramento dele—nesse ponto, marcado aqui com uma estrela, os carregadores de turíbulo deixam a capela, sendo quatro deles. Um sobe ao altar, deixando os outros balançando os turíbulos aos pés, e entrega o seu para o oficiante e se retira. Sob o som de um sino por quatro vezes, as cortinas são abertas, o oficiante balança o turíbulo quatro vezes na imagem e ao parar, o coro canta a antífona designada.

Ele fez acenos com as mãos.

“O resto é fácil,” disse ele. “Não precisamos discutir isso.”.

Para a cabeça de Mabel, mesmo as cerimônias anteriores pareciam bastante fáceis. Mas ela não estava enganada.

“Você não tem ideia, Sra. Brand,” continuou o _ceremoniarius_, " das dificuldades envolvidas até em assunto simples como esse.  A estupidez das pessoas é prodigiosa. Eu prevejo que haverá muito trabalho para nós todos.., Quem deverá fazer o sermão, Sr. Brand?"

Oliver balançou a cabeça negativamente.

"Não tenho ideia," disse ele. "Suponho que o Sr. Snowford irá escolher."

O Sr. Francis olhou para ele com dúvidas.

"Qual sua opinião de todo o assunto, senhor?" ele disse.

Oliver pausou por um momento.

"Acho que seja necessário," começou ele. "Não haveria tanto clamor pelos cultos se não houvesse real necessidade. Acho também que, no geral, o ritual impressiona. Não vejo como possa ser melhorado..."

"Como, Oliver?" inquiriu sua esposa.

"Digo, não há nada—exceto…exceto que espero que as pessoas o entendam."

Sr. Francis interrompeu.

“Meu caro senhor, o culto envolve um toque de mistério. Você deve se lembrar disso. Foi a falta dele que fez a celebração do Dia do Império desaparecer no último século. Para mim, ele está admirável. Claro, que muito vai depender da maneira como será apresentado. Vejo que ainda há muitos detalhes não definidos---a cor das cortinas,e assim por diante.Mas o plano principal é magnífico. É simples, impressiona e acima de tudo, é irrepreensível na sua lição principal---“

“E o que é para você--?”

“Creio que seja na homenagem oferecida à Vida,” disse lentamente. “A Vida sob quatro aspectos—a Maternidade corresponde ao Natal e à fábula cristã; é a festividade do lar, do amor e da fidelidade. A própria Vida é abordada no aspecto da primavera, abundância, jovialidade, paixão. A do Sustento no início do verão, abundância, conforto, quantidade, e o restante, correspondente aproximadamente ao Corpus Christi Católico; e a Paternidade, a proteção, a geração, ideia imperiosa, ao inverno principiando... Eu entendo que era um pensamento alemão.”

Oliver concordou.

“Sim,” disse ele. “E suponho que será a tarefa do orado explicar tudo isso.”
Oliver reconheceu.

“Entendo que sim. Parece para mim muito mais sugestivo do que o plano alternativo—Cidadania, Trabalho e assim por diante. Esses, afinal, estão subordinados à Vida.”

O Sr. Francis falava com entusiasmo refreado, e o olhar sacerdotal era mais evidente do nunca. Estava claro que seu coração demandava o culto.

Mabel apertou as mãos repentinamente.

“Eu acho que está lindo,” disse ela suavemente,”e—e é tão real.”

O Sr. Francis virou-se para ela com brilho nos seus olhos castanhos.

“Ah! Sim, senhora. É isso. Não há a Fé, como costumávamos chamá-la; é a visão dos Fatos que ninguém pode duvidar; e o incenso declara a divindade única da Vida, assim como seu mistério.”



"E a respeito das figuras?" perguntou Oliver.
“Uma imagem de pedra é possível, é claro. Deve ser de argila por enquanto. O Sr. Markenheim deve trabalhar nisso imediatamente. Se as figuras forem aprovadas , elas podem ser depois serem feitas em mármore.”

Novamente Mabel falou com suave importância.

“Parece para mim,” disse ela, “que essa é a última coisa que precisamos. É tão difícil manter claros os nossos princípios—nós devemos ter um corpo para eles---algum tipo de expressão.

Ela pausou.

“Como, Mabel?”

“Eu não quero dizer, “ela continuou, “que alguns não possam viver sem ela, mas muitos não podem. O que não se pode imaginar necessita de imagens concretas. Deve haver algum canal para suas aspirações fluirem—Ah! Não consigo me expressar direito!”

Oliver concordou lentamente. Ele, também, parecia estar em um modo meditativo.

“Sim,” ele disse. “E isso, eu suponho, irá moldar os pensamento das pessoas também; irá afastar todo o perigo da superstição.”

O Sr. Francis virou-se para ele.

“O que você acha da nova Ordem Religiosa do Papa, senhor?"

A face de Oliver tomou um ar sério.

“Eu acho que é a pior medida que ele já tomou—para si próprio, quero dizer. Ou é um esforço verdadeiro, em cujo caso irá provocar imensa indignação—ou é uma enganação, e irá causar-lhe descrédito. Por que pergunta?”

"Eu queria saber se haverá algum distúrbio na abadia."

"Eu devia ter pena do briguento."

Uma campainha tocou agudamente de um dos aparelhos telefônicos. Oliver se levantou e foi até ele. Mabel ficou assistindo ao vê-lo apertar um botão—mencionou o seu nome e colocou o ouvido no fone.

“É a secretária de Snowford,” disse ele rapidamente para os dois. “Snowford quer—ah!”

Novamente, ele mencionou seu nome e ouviu. Os dois ouviram uma frase ou duas dele que pareciam importantes.

“Ah! Isso é certo, não? Desculpe-me… Sim.. Oh! Mas isso é melhor que nada..Sim, ele está aqui...na verdade. Muito bem; nós estaremos logo com o senhor.”

Ele olhou no visor, apertou o botão novamente e voltou para eles.

“Desculpe-me,” ele disse. O Presidente não irá tomar parte na Festividade. Mas não está certo se ele estará ou não presente. O Sr. Snowford quer ver nós dois imediatamente, Sr. Francis. Markenheim está com ele.

Mas embora Mabel estivesse ficado desapontada, ela achou que o assunto parecia ser mais sério do que seu próprio desapontamento.

FIM DO CAPÍTULO 4 – O SENHOR DO MUNDO – AGOSTO DE 2012, A.D.