Capítulo 5
Parte 1
Percy Franklin, o novo Cardeal-Protetor da
Inglaterra, caminhou lentamente pela passagem da saída dos aposentos do Papa,
com Hans Steinmann, o Cardeal-Protetor da Alemanha, ofegante ao seu lado. Eles
entraram no elevador, ainda em silêncio, duas figuras amortecidas, uma ereta e
viril, a outra encurvada, obesa, e típica alemã, desde os óculos aos sapatos
afivelados.
À porta do quarto de Percy, o inglês parou,
fez um pequeno gesto de reverência e entrou sem qualquer palavra.
Um secretário, o jovem Sr. Brent,
recentemente vindo da Inglaterra, estava de pé quando seu patrono entrou.
"Eminência," ele disse, "os
papeis ingleses chegaram."
Percy esticou a mão,pegou os papeis,entrou
na sua sala particular e sentou-se.
Lá estavam - - enormes manchetes com quatro
colunas de texto quebradas com frases-título surpreendentes em maiúsculas,
segundo a moda criada pelos Estados Unidos centenas de anos atrás. Não havia
melhor maneira do que esta para informar erroneamente as pessoas menos cultas.
Ele olhou para a parte de cima. Era a
edição inglesa do Era. Depois, leu as manchetes. Eram as seguintes:
"O CULTO NACIONAL. ESPLENDOR E
PERPLEXIDADE. ENTUSIASMO RELIGIOSO. A ABADIA E DEUS. CATÓLICO FANÁTICO.
EX-PADRES COMO FUNCIONÁRIOS."
Ele percorreu com os olhos para a parte
debaixo da página, lendo as pequenas frases e compreendendo aquele quadro
impressionista dos acontecimentos na Abadia no dia anterior, sobre o qual ele
havia sido informado pelo telégrafo, e a cujo propósito havia ocorrido uma
reunião com o Santo Padre.
Não havia notícias adicionais e ele estava
abaixando a folha de papel quando percebeu um nome.
"Está entendido que o Sr. Francis, o
_ceremoniarius_ (a quem todos devem os agradecimentos pelo seu grande zelo e
habilidade)), irá se dirigir em breve às cidades do norte para explicar o
Ritual. É interessante refletir que este cavalheiro, há apenas alguns meses,
estava oficiando em um altar católico. Ele foi assistido em seus trabalhos por
vinte e quatro companheiros dotados da mesma experiência."
"Meu Bom Deus!" disse Percy em
voz alta. E aí, abaixou o papel.
Mas seus pensamentos tinham deixado esse
renegado para trás, e uma vez mais ele refletia a significância de todo o caso,
e
o conselho que ele havia planejado que era
seu dever de dar agora pouco no andar de cima.
Em resumo, não adiantava discutir o fato de
que a inauguração da adoração Panteísta tinha sido um estupendo sucesso na
Inglaterra, como na Alemanha. A França, a propósito, estava ainda muito ocupada
com culto dos indivíduos, para desenvolver ideias maiores.
Mas a Inglaterra estava mais imersa nesse
aspecto; e, de algum modo, apesar da profecia, o caso tinha acontecido sem toques
de banalidade ou grosseria. Tinha sido dito que a Inglaterra era muita sólida,
mas de excessivo bom humor. Contudo, tinha havido cenas extraordinárias no dia
anterior.
Um grande murmúrio rolou por toda a abadia
ao abrirem as cortinas e a grande figura masculina, fantástica e majestosa,
colorida com fina arte, estava erguida sobre luzes de velas contra uma tela
alta que escondia o santuário. Markenheim tinha feito bem o seu trabalho; e o
discurso apaixonado do Sr. Brand tinha preparado adequadamente o espírito
popular para a revelação. Ele havia citado em sua peroração passagem após
passagem dos profetas judeus, contando sobre a Cidade da Paz, cujos muros agora
se erguiam diante de seus olhos.
“_Eleva-se, brilhe, pois tua luz chegou, e
a glória do Senhor está derramada sobre ti...Olhem, pois eu crio um novo céu e
uma nova terra; e o anterior não deve ser relembrado e não vindo à mente... não
deve ser mais vista a violência nesta terra, estragos e destruição dentro de
nossas fronteiras. Oh, tu por tanto tempo angustiado, atormentado pela
tempestade e sem ser confortado; olhem que eu vou assentar tuas pedras com
cores justas, e tuas fundações com safiras... Eu vou fazer tuas janelas de
ágata e teus portões de granada, e todas tuas fronteiras de pedras agradáveis.
Eleva-se, brilhe, pois tua luz chegou.-“
Ao som dos tinidos dos incensários ecoado naquela
tranquilidade, a enorme multidão se ajoelhou e assim permaneceu, quando a
fumaça ainda saiu ondulada das mãos daqueles que seguravam os turíbulos. A
seguir, o órgão começou a tocar, e o grande coral nos transeptos cantou o hino,
interrompido por um grito apaixonado de algum louco Católico. Mas fora
silenciado em um instante...
Foi incrível - - completamente incrível,
Percy disse para si. Contudo, o incrível tinha acontecido; e a Inglaterra
encontrou a sua adoração uma vez mais - - a culminação necessária de
subjetividade desimpedida. Das províncias, vinham notícias semelhantes. Em
várias catedrais tinham se visto as mesmas cenas. A obra-prima de Markenheim, criada
em quatro dias após a aprovação da moção, tinha sido reproduzida maquinalmente
e quatro mil réplicas foram despachadas a todo centro importante. Relatos
telegráficos fluíam para os jornais de Londres, que em todos os lugares, o novo
movimento tinha sido recebido com aclamação, e que os instintos humanos tinham
encontrado a expressão adequada finalmente. Se não houvesse um Deus, Percy
relembrou, teria sido necessário inventar um. Ele ficou surpreendido, também,
pela habilidade com que o novo culto foi elaborado. Não mexia em pontos
discutíveis; não havia possibilidade que tendências políticas divergentes
barrassem seu sucesso, nenhum excesso de insistência sobre a cidadania,
trabalho e outros, para aqueles que eram intimamente individualistas e
preguiçosos. A vida era a única fonte e centro de tudo, vestida dos belos
mantos do antigo culto. É claro que a ideia vinha de Felsenburgh, embora um
nome alemão tinha sido mencionado. Era uma espécie de Positivismo, Catolicismo
sem o Cristianismo, o culto ao Humanismo sem sua inadequação. Não era o homem
que era adorado, e sim a ideia do homem, privado de seu princípio
sobrenatural.O Sacrifício também era reconhecido – o instinto da oblação sem a necessidade
feita pela Santidade transcendente sob a culpabilidade do homem... De fato,- -
de fato, disse Percy, era exatamente tão sagaz quanto o diabo e tão antigo como
Caim.
O aconselhamento que ele havia dado ao
Santo Padre foi o de um aconselhamento de desespero, ou de esperança; ele
realmente não sabia qual. Ele tinha solicitado que um decreto estrito fosse
emitido, proibindo quaisquer atos de violência por parte dos Católicos. Os
fieis deveriam ser encorajados a serem pacientes, para se ficarem indiferentes
em relação ao culto, para dizerem nada a menos que fossem questionados, e
sofrer as aflições com resignação. Ele sugeriu, em conjunto com o Cardeal da
Alemanha, que eles dois devessem retornar a seus respectivos países ao final do
ano, para encorajar os indecisos; mas a resposta tinha sido que a necessidade
deles era a de permanecer em Roma, a menos que algo imprevisto acontecesse.
Quanto a Felsenburgh, havia poucas
notícias. Diziam que ele estava no Oriente; contudo mais detalhes já eram
secretos. Percy entendeu muito bem por que ele não esteve presente no culto
conforme havia sido esperado. Primeiro, teria sido difícil decidir entre os
dois países que estabeleceram o culto; e, segundo, ele era um político muito
brilhante para arriscar-se a uma possível associação a falhas com a sua própria
pessoa; terceiro, estava acontecendo algo importante com o Oriente.
Este último ponto era difícil de entender;
ainda não tinha se tornado explícito, mas parecia que o movimento do ano
passado não tinha ainda completado seu curso. Era, indiscutivelmente, difícil
de explicar as constantes ausências do Presidente de seu país adotado, a menos
que houvesse algo que demandava sua presença; mas a extrema discrição do
Oriente e as estritas precauções tomadas pelo Império fez com que fosse
impossível saber quaisquer detalhes. Era aparentemente ligado à religião; havia
rumores, presságios, profetas, êxtases lá.
* * * * *
Sobre si, Percy reconheceu que havia
ocorrido nele uma sutil mudança. Ele não mais buscava confiança ou se afundava
em desespero. Ele fazia a sua missa, lia o seu calhamaço de correspondências, meditava,
e embora ele não sentia nada, ele sabia de tudo. Não havia a menor sombra de
dúvida em sua fé, mas não havia emoção nela tampouco. Ele era como um que
trabalhava nas profundezas da terra, oprimido até mesmo na imaginação, contudo
consciente de que em algum lugar os pássaros cantavam e o sol brilhava e a água
corria. Ele compreendia bastante bem seu próprio estado e percebeu que ele
tinha chegado a uma realidade de fé que era nova para ele, pois era pura fé –
pura apreensão do Espiritual – sem os perigos e as alegrias da visão
imaginativa. Ele a expressava para si dizendo que havia três processos através
dos quais Deus conduzia a alma: o primeiro era a fé externa, que concorda com
todas as coisas apresentadas pela autoridade habitual; o segundo segue a
aceleração dos poderes emocional e perceptível da alma, e é iniciado com
consolações, desejos, visões místicas e perigos; é neste plano que as
resoluções são tomadas e as vocações encontradas e naufrágios experimentados; e
o terceiro, misterioso e inexpressivo, consiste no restabelecimento da esfera
puramente espiritual de tudo que tenha precedido (como um ato segue após um
ensaio), no qual Deus é compreendido, mas não experimentado, a graça é
absorvida inconscientemente e até mesmo sem muito gosto, e pouco a pouco o
espírito interior é ajustado nas profundezas do seu ser, bem dentro das esferas
da emoção e da percepção intelectual, para a imagem e espírito de Cristo.
Agora ele se recostava, pensando, uma
figura alta, imponente, escarlate, em sua cadeira funda, olhando por sobre a
Sagrada Roma em meio à névoa de
Setembro. Por quanto tempo, ele imaginava, haveria paz? Para seus olhos, até
mesmo o ar estava negro com a perdição.
Finalmente, fez tocar seu sino de mão.
“Traga-me o último relatório do Padre
Blackmore,” disse ele quando apareceu seu secretário.
Parte 2
As faculdades intuitivas de Percy eram
aguçadas por natureza e tinham sido aperfeiçoadas pela cultivo. Ele nunca
esquecera as astutas observações do Padre Blackmore um ano atrás; e um dos seus
primeiros atos como Cardeal-Protetor tinha sido o de apontar esse padre para a
lista dos correspondentes ingleses. Até agora, ele havia recebido algumas
dezenas de cartas, e nenhuma delas deixava de ser valiosa. Especialmente, ele
tinha notado uma advertência que passava por todas, isto é, que cedo ou tarde,
haveria alguma manifestação de reação da parte dos católicos ingleses; e era na
lembrança disto que havia inspirado suas veementes súplicas para o Papa nesta
manhã. Como nas perseguições romanas e africanas dos primeiros três séculos,
assim agora, o maior perigo para a comunidade Católica residia não nas medidas
injustas do Governo, mas no zelo indiscreto dos próprios fieis. O mundo
desejava nada melhor que uma empunhadura para a sua navalha. A bainha já fora
jogada fora.
Quando o jovem tinha trazido as quatroo
folhas condensadamente escritas, datadas de Westminster, da noite anterior,
Percy olhou rapidamente para o último parágrafo, antes das usuais
Recomendações.
“O último secretário do Sr. Brand, Sr.
Phillips, a quem sua Eminência me recomendou, veio me visitar por duas ou três
vezes. Ele está em um estado curioso. Ele não tem fé; contudo,
intelectualmente, ele não vê mais esperança em outro lugar a não ser na Igreja
Católica. Ele até mesmo implorou sua entrada na Ordem do Cristo Crucificado,
que é, claramente, impossível. Mas não há dúvidas de que ele é sincero; de
outra maneira ele não teria professado o Catolicismo. Eu o apresentei a muitos
Católicos na esperança de que eles possam ajudá-lo.Eu queria muito que sua
Eminência pudesse vê-lo.”
Antes de deixar a Inglaterra, Percy tinha
acompanhado a reação que ele havia provocado na reconciliação da Sra. Brand para
com Deus, e, havia recomendado ele para o padre. Ele não ficara particularmente
impressionado com o Sr. Phillips; ele achava ser uma criatura tímida, indecisa,
contudo ele ficara admirado de ver a atitude extremamente altruísta pela qual o
homem tinha perdido a sua posição. Deveria ter havido um bom motivo por trás.
E agora havia chegado o impulso de buscá-lo.
Talvez, a atmosfera espiritual de Roma iria desencadear a fé. Em qualquer caso,
a conversação com o último secretário do Sr. Brand poderia ser instrutiva.
Ele tocou o sino novamente.
“Sr. Brent,” ele disse, “em sua próxima
carta ao Padre Blackmore, diga a ele que desejo ver o homem que ele propôs
enviar—Sr. Phillips.”
"Sim, Eminência."
"Não há pressa. Ele pode enviá-lo
quando puder."
"Sim, Eminência."
"Mas ele não pode vir até Janeiro.
Isso dará tempo suficiente, a menos que haja alguma razão urgente."
"Sim,
Eminência."
*
* * * *
O desenvolvimento da Ordem do Cristo
Crucificado havia avançado com sucesso quase miraculoso. O apelo feito pelo
Santo Padre para a Cristandade tinha sido como fogo em restolhos. Parecia como
se o mundo Cristão tinha alcançado exatamente aquele ponto de tensão, no qual
uma nova organização dessa natureza era necessária, e a resposta tinha
surpreendido até mesmo o de temperamento sanguíneo. Praticamente, toda a Roma
com seus subúrbios—três milhões ao todo—tinha se dirigido às seções de registro
na basílica de São Pedro como homens famintos por comida, e desesperados por romper
pela entrada. Pois, dia após dia, o próprio Papa tinha se sentado no Trono; uma
figura gloriosa, radiante, ficando cada vez mais cansado ao final da tarde,
dando sua Benção com sinal silencioso para cada indivíduo da vasta multidão que
fervilhava por entre as barreiras, recente do jejum e da Comunhão, para se
ajoelhar diante de seu novo Superior e beijar o anel do pontífice.As exigências
tinham sido tão estritas quanto as circunstâncias permitiam. Cada postulante
era obrigado a se confessar com um padre especialmente autorizado, que
examinava profundamente os motivos e a sinceridade, e somente um terço dos
aplicantes fora aceito. Isto, as autoridades indicavam, não era de uma
proporção excessiva; pois era lembrado de que a maioria desses que havia se
apresentado, tinha já passado por um filtro ainda mais exigente. Dos três
milhões em Roma, dois milhões, pelo menos, estavam exilados pela sua fé,
preferindo viver uma vida obscura e desprezada na sombra de Deus, do que no
brilho desolado de seus países infiéis.
Na quinta noite de registro dos noviços, um
espantoso acidente aconteceu. O velho Rei da Espanha (o segundo filho da Rainha
Vitória), quase à beira do túmulo, tinha se levantado e se dirigido cambaleante
ante seu Santo Padre; parecia, por um instante, que ele iria cair, quando o
próprio Papa, em um rápido movimento, se levantou, esticou seus braços em
direção, passando um _fervorino_ tal como nunca tinha sido ouvido antes na
história da basílica.
"_Benedictus Dominus!_" ele clamou, com a face erguida
e os olhos brilhantes.
"Abençoado seja o Senhor Deus de Israel, pois Ele nos tem
visitado e redimido Seu Povo. Eu, João, Vigário de Cristo, Servo dos Servos, e
pecador entre os pecadores, peço que você tenha muita coragem em Nome de Deus. Por
Aquele que está na Cruz, prometo vida eterna a todos que perseverem em Sua
Ordem. Ele Próprio tem dito isso._Para aquele que se superar, Eu darei a coroa
da vida._
"Meus filhos; não temai aquele que mata o corpo. Não há
mais o que ele possa fazer. Deus e Sua Mãe estão entre nós...."
Assim derramada a sua voz, dizendo à grande
multidão assombrada sobre o sangue que já tinha sido espalhado naquele lugar
onde eles estavam, sobre o corpo do Apóstolo que jazia a uns cinquenta metros
ali perto, urgindo, encorajando, inspirando. Eles tinham se comprometido até a
morte, se fosse Vontade de Deus; e se não, a intenção seria considerada para o
ato. Eles estavam sob obediência agora; as vontades deles não eram mais deles e
sim de Deus; sob castidade—pois os corpos deles foram comprados por um preço;
sob a pobreza, e eles estariam no Reino dos Céus.
Ele havia finalizado com uma grande Bênção
da Cidade e do Mundo; e não haveria menos de meia dúzia de fiéis que haviam
visto, assim se achava, uma figura branca na forma de um pássaro que ficara no
ar, enquanto ele falava, branca como uma névoa, translúcida como água....
As cenas consequentes na cidade e nos subúrbios
nunca haviam sido vistas antes, pois milhares de famílias tinham com um único
consentimento, dissolvido as disputas humanas. Os maridos foram levados para as
grandes residências no Palácio do Quirinal, separadas para eles. As esposas
para o Aventino; enquanto que as crianças, tão confiantes como seus pais,
tinham sido espalhadas pelas residêncis das Irmãs de São Vicente, que haviam,
de acordo com as ordens do Papa, a liberação de três ruas para abrigá-las.
Em todos os lugares, a fumaça de queimadas
subia nas praças, onde propriedades familiares, consideradas inúteis pelos
votos de pobreza, eram consumidas pelos últimos donos; e diariamente, grandes
trens saiam da estação para fora dos muros, levando pessoas exultantes,
despachadas pelos delegados do Papa, para serem o sal dos homens, dedicados na
função, e fermento por dentro das vastas extensões do mundo infiel. E aquele
mundo infiel dava boas vindas à chegada deles com sorriso amargo.
Do resto da Cristandade, chegavam notícias
de sucesso. As mesmas precauções tinham sido observadas em Roma, pois os
procedimentos emitidos eram precisos e minuciosos; e dia após dia, chegavam muitos
relatos de informações da nova Religião, descrita pelos superiores diocesanos.
Nos últimos dias, haviam chegado outros
relatos, ainda mais gloriosos. Não somente vinham relatórios, mas também a
Ordem já começara seu trabalho,
e que comunicações cortadas estavam sendo
restabelecidas, missionários devotados estavam em processo de se organizarem, e
a esperança estava uma vez mais crescente nos mais desesperados corações; mas,
melhor que tudo, eram as notícias de vitória em uma outra esfera.Em Paris,
quarenta da Ordem recém-criada tinham sido queimados vivos em um dia na
localização da parte Latina, antes que o Governo pudesse intervir. Da Espanha,
Holanda e Rússia vinham outros nomes. Em Dusseldorf, dezoito homens e rapazes,
surpreendidos ao cantarem, na igreja de São Lourenço, a primeira das horas
canônicas, foram lançados um a um no esgoto da cidade, cada um cantando ao
desaparecerem:
"_Christi Fili Dei vivi miserere
nobis,_"
e da escuridão vinha a mesma canção até que
fora silenciada por pedras. Enquanto isso, as prisões alemãs estavam ficando
cheias dos primeiros lotes de recusantes. O mundo encolhia os ombros, e
declarava que eles tinham pedido por isso, depreciando atos de violência e
tumulto, pedindo a atenção das autoridades e uma repressão decisiva desta nova
conspiração de supertições. E dentro da igreja de São Pedro, os trabalhadores
estavam ocupados nas longas fileiras dos novos altares, afixando nos dípticos
de pedra os nomes forjados em latão daqueles que tinham já cumprido suas
promessas e ganhado suas coroas.
Era a primeira palavra da resposta de Deus
para o desafio do mundo.
* * * * *
Com o Natal passando, fora anunciado que o
Soberano pontífice iria fazer uma grande missa no último dia do ano, no altar
papal de São Pedro, em nome da Ordem; e as preparações começaram a ser feitas.
Era para ser uma espécie de inauguração
pública do novo empreendimento; e, para o assombro de todos, foi feita uma
convocação especial para todos os membros do Colégio Sagrado, ao redor do
mundo, para estarem presentes, a menos que estivessem impedidos por alguma
doença. Parecia que o Papa estava determinado de que o mundo deveria entender
que havia sido declarada uma guerra; pois, embora a determinação não envolvesse
a ausência de qualquer Cardeal da sua província por mais de cinco dias, muitas
inconveniências certamente resultariam. Contudo, tinha sido dito e deveria ser
feito.
* * * * *
Fora um estranho Natal.
Percy foi solicitado a ajudar o Papa em sua
segunda missa, e ele mesmo fez a sua Terceira à meia noite em seu próprio
oratório particular. Pela primeira vez na sua vida, ele presenciou aquilo que
tinha ouvido tantas vezes, a maravilhosa procissão pontifical do velho mundo,
iluminada por tochas, indo pelas ruas do Latrão a St. Anastácia, onde o Papa,
nos últimos anos, havia restabelecido um antigo costume, descontinuado por
quase um século e meio. A pequena basílica estava reservada, é claro, em todos
os cantos para os peculiarmente privilegiados; mas as ruas do lado de fora, ao
longo do caminho inteiro da Catedral até a igreja—e, na verdade, os outros dois
lados do triângulo também, eram uma densa massa de cabeças silenciosas e tochas
flamejantes. O Santo Padre era atendido no altar pelos soberanos usuais; e
Percy, do seu lugar, assistia o drama celestial da Paixão de Cristo sendo
desempenhado através do véu da Sua natividade nas mãos do Seu velho e Angélico
Vigário. Era difícil de perceber o Calvário ali; era certamente os ares de
Belém, a luz celestial, não a escuridão sobrenatural, que se irradiava ao redor
do simples altar. Era a Criança, chamada Maravilhosa, que estava ali, debaixo
das velhas mãos, em vez do abatido Homem das Dores.
_Adeste fideles_ cantou o coro da tribuna.—Venha,
vamos adorar, em vez de chorar; vamos exaltar, estar satisfeitos, sermos como
pequenas crianças. Como Ele para nós se tornou uma criança, vamos nos tornar
infantis para Ele.
Vamos vestir roupas da infância e sapatos
da paz._ Pois o Senhor tem reinado; Ele está adornado de beleza: o Senhor está guarnecido
de força e Ele tem se cingido. Ele estabeleceu o mundo o qual não deve ser
mudado: Seu trono está preparado desde os tempos passados. Ele é do eterno.
Regozijem grandemente então, Ó filha de Sião, grite de alegria, Ó filha de
Jerusalém; contemple teu Rei que está vindo, para ti, o Sagrado, o Salvador do
mundo._Haverá tempo, então, para sofrer por um breve tempo, quando o Príncipe
deste mundo se deparar com o Príncipe dos Céus.
Assim refletia Percy, ficando à parte em
seu deslumbramento, se esforçando para se fazer pequeno e simples. Certamente,
nada era difícil demais para Deus! Não poderia este místico Nascimento uma vez
mais fazer o que tinha feito antes—trazer à sujeição, através do poder da sua
fraqueza, toda a coisa orgulhosa que se exalta sobre tudo aquilo que é chamado
Deus? Arrastou os sábios magos uma vez através do deserto, assim como os
pastores dos seus rebanhos. Tinha reis ali agora, ajoelhando-se com os pobres e
tolos, reis que haviam tirado suas coroas, que trouxeram o ouro de corações
leais, a mirra do martírio desejado e o incenso de uma pura fé.
As repúblicas não poderiam, também, colocar
de lado seus esplendores, tumultos serem dominados, egoísmo ser negado e
sabedoria confessar sua ignorância?...
Depois, ele se lembrou de Felsenburgh; e
seu coração se enfraqueceu por dentro.
Parte 3
Seis dias depois, Percy levantou-se como
sempre, fez sua missa, tomou café da manhã e depois sentou-se no escritório até
seu secretário convocá-lo para se aprontar para a missa Pontifical.
Ele já se acostumara a esperar más notícias
constantemente—de apostasias, mortes, perdas—que a calmaria da semana anterior
tinha vindo a ele com extraordinário alívio. Pareceu para ele como se suas
reflexões em St. Anastácia tinham sido mais verdadeiras que ele pensara, e que
a doçura da velha festividade não tinha ainda totalmente perdido seu poder, até
mesmo de um mundo que negava sua substância. Pois nada mesmo tinha acontecido
de importância. Alguns outros martírios tinham sido confirmados, mas eles
tinham sido casos isolados; e sobre Felsenburgh não havia nada de notícias. A
Europa confessou sua ignorância de seus assuntos.
Por outro lado, amanhã, Percy sabia muito
bem, seria um dia de momentos extraordinários na Inglaterra e na Alemanha de
qualquer forma; pois na Inglaterra fora designada a primeira ocasião do culto
obrigatório por todo o país, enquanto que era a segunda na Alemanha. Homens e
mulheres teriam que se declarar agora.
Ele havia visto na noite anterior uma
fotografia da imagem que deveria ser cultuada no dia seguinte na Abadia; e, fez
ele sentir um ataque de repulsa e cortá-la em pedaços. Representava uma mulher
nua, enorme e majestosa, fascinantemente bela, com cabeça e ombros jogados para
trás, como um que vê uma visão estranha e celestial, braços esticados para
baixo e mãos um pouco levantadas, com dedos abertos, como em admiração—a
atitude toda, com os pés e joelhos apertados juntos, sugerindo expectativa,
esperança e surpresa; em zombaria diabólica seus cabelos compridos estavam
coroados com doze estrelas. Isto, então, era a esposa do outro, a
personificação do maternidade ideal do homem, ainda esperando pelo seu filho...
Quando os restos do papel jaziam como neve
venenosa a seus pés, ele saltou até o outro lado da sala para seu _prie-dieu_,e
de joelhos em uma agonia de reparação.
“Oh!
Mãe, Mãe!”, gritou ele para a figura da
Rainha dos Céus, que, com Seu Filho verdadeiro em seus braços, olhou para ele
do seu consolo—não mais do que isso.
* * * * *
Mas ele estava calmo novamente nessa manhã,
e celebrou São Silvestre o Papa e o Mártir, o último santo na procissão do ano
Cristão, com tolerável equanimidade. As visões da noite passada, a multidão dos
oficiais, as figuras escarlates imponentes dos Cardeais, que tinham vindo do
norte, sul, leste e oestes—eles ajudavam a tranquilizá-lo novamente—irracionalmente,
como ele sabia, contudo eficazmente. O próprio ar estava elétrico com
expectativas. Em todas as noites, a praça estava com uma grande multidão,
silenciosa, esperando a abertura das portas às sete horas.
Agora a própria igreja estava cheia, e a
praça cheia de novo. Mais adiante na rua, em direção ao rio, até onde ele podia
ver ao debruçar pela janela, havia os solenes e imóveis amontoados de pessoas.
O teto da colunata mostrava faixas delas, os tetos das casas estavam cobertos—e
isto em uma manhã fria, pois fora anunciada, que após a missa e a passagem dos
membros da Ordem pelo Trono do Pontífice, o Papa iria dar a Bênção Apostólica para
a Cidade e para o Mundo.
Percy terminou a Terça, fechou seu livro e
recostou-se; seu secretário estaria ali dentro de minutos.
Sua mente começou a pensar sobre o evento,
e refletia que o inteiro Colégio Sagrado (com a exceção do Cardeal-Protetor de
Jerusalém, que não veio por estar adoentado), com cerca de sessenta e quatro
membros, tomaria parte. Isto significaria uma visão única, eventualmente. Oito
anos antes, ele se lembrava, depois da liberdade de Roma, tinha ocorrido uma
reunião similar; mas os Cardeais, naquela vez, não eram mais que cinquenta e
três ao todo, quatro tinham estado ausentes.
Depois, ele ouviu vozes na ante-sala, um passo
rápido, e uma alta repreensão em inglês. Isso era estranho e sentou-se ereto.
A seguir, ouviu uma frase.
"A Sua Eminência tem que por sua
vestimenta; não adianta."
Houve uma resposta severa, um leve arrastar
de pés e agarrarem a manivela da fechadura. Isto era reprovável; assim Percy
ficou de pé, deu três passos em direção à porta e a abriu.
Um homem estava lá, a quem a princípio ele
não reconheceu, pálido e desordenado.
“Ora---“, disse Percy, se recolhendo.
"Sr.
Phillips!", disse ele
O outro estendeu as mãos.
“Sou eu, senhor—sua Eminência—o momento
chegou. É vida e morte. Seu secretário me disse---“
"Quem te enviou?"
"O Padre Blackmore."
"Boas ou más notícias?"
O homem tornou seus olhos para o secretário,
que ainda estava ali de pé e ofendido a um metro de distância; e Percy
compreendeu.
Ele o arrastou com o braço para dentro,
tirando-o da entrada da parta.
“Bata nesta porta em dois minutos, James,”
ele disse.
Eles caminharam juntos pelo chão lustrado;
Percy foi para seu lugar usual na janela, debruçou na folha da janela e falou.
“Diga-me em uma frase, senhor,” disse ele
para o homem ofegante.
“Há uma plano correndo por entre os Católicos.
Eles querem destruir a Abadia amanhã com explosivos. Eu sei que o Papa---“
Percy o interrompeu com um gesto.
FIM DO CAPÍTULO 5 – SENHOR DO MUNDO.