LIVRO 1- O ADVENTO
CAPÍTULO 1 – Parte 1
Oliver Brand, o novo membro para Croydon , em seu estúdio, olhando pela janela por sobre sua máquina de escrever.
Sua casa de frente para o norte no final de Surrey Hills, agora desfigurada; apenas para um Comunista a vista era inspiradora. Logo abaixo das grandes janelas, o terreno se inclinava 30 metros abaixo, terminando num grande muro e além dele, o mundo e as obras gloriosas do homem se espalhavam até onde os olhos podiam ver.
Duas enormes pistas delineadas como pistas de corridas, cada uma não menor que 400 metros de largura e rebaixadas do solo em uns 6 metros se encontravam a pouco mais de 1 quilometro à frente em uma grande junção.
A que estava à sua esquerda era a Primeira Linha-Tronco para Brighton, inscrito em letras maiúsculas no Guia de Ferrovias. A da diretira a Segunda Linha-Tronco para o distrito de Hasting e Tunbridge.
Cada uma dividida longitudinalmente por um muro de cimento, sendo que em um lado se fixavam os trilhos de aço e andavam os trens elétricos e no outro ficavam as faixas propriamente ditas, divididas em três, sobre as quais passavam, primeiro a linha de transporte público a uma velocidade de 240 quilometros por hora, a segunda para os veículos privados a não mais que 100 quilometros, a terceira a linha econômica pública a 50 km, com estações a cada 8 km. Isto era flanqueado por uma estrada confinada a pedestres, ciclistas e veículos comuns sobre a qual nenhum veículo poderia andar mais que 20 quilometros por hora.
Para além destas grandes pistas ficava um imenso plano de telhados de casas, com pequenas torres aqui e ali, marcando os edifícios públicos, desde o distrito de Caterham até Croydon, tudo límpido e brilhante no céu desanuviado; e longe ao oeste e norte ficavam as colinas do subúrbio de encontro ao firmamento de abril.
Havia pouco barulho, considerando a pressão da população; e. com a exceção de do som dos trilhos de aço quando o trem passava rumo ao norte ou ao sul, e o doce acorde dos grandes veículos ao se aproximarem e deixarem a grande junção, havia pouco a ser ouvido neste estúdio, exceto por um suave e confortante murmúrio que preenchia o ambiente como o zumbido de abelhas em um jardim.
Oliver gostava de toda a indicação de vida humana- todos os sons e estímulos visuais-e agora sorria levemente para si mesmo ao fitar o céu claro. A seguir, selou os lábios e aportou seus dedos nas teclas novamente, e continuou na escrita do seu discurso.
* * * * *
Ele era afortunado por ter aquela casa. Ela ficava em um ângulo de uma daquelas enormes redes com as quais o país era todo coberto
e era tudo que ele poderia esperar para seus propósitos. Era perto o bastante de Londres para ser extremamente barata, pois todos os ricos se afastaram por pelo menos 160 quilometros do coração pulsante da Inglaterra; mas gostava por ser bastante calma. Ele estava também a dez minutos de Westminster e a vinte minutos do mar e seu distrito eleitoral se estendia diante dele como um mapa elevado. Além disso, desde que o ponto final da Grande Londres ficava dali a 10 minutos, havia, à sua disposição, o transporte da Primeira Linha-Tronco para toda grande cidade de Londres. Para um político de poucos meios, a quem era solicitado falar em Edinburgh em uma noite e em Marselha em outra, ele era um homem bem localizado na Europa.
Ele era um homem de aparência agradável, não mais que 30 anos, cabelos negros anelados, barbeado, magro, viril, carismático, de olhos azuis e cútis branca. Neste dia, ele parecia estar feliz consigo e com o mundo. Seus lábios se moviam levemente ao passo que escrevia, seus olhos mexiam com a emoção e mais de uma vez ele pausava e olhava para fora novamente, sorrindo e ruborizando-se.
A seguir, uma porta abriu, um senhor de meia idade entrou apressadamente com um monte de papeis , colocando-os na mesa sem uma palavra, e virou-se para sair. Oliver levantou a mão para chamar-lhe a atenção e falou.
"O que é, Sr. Phillips?" ele disse.
"São notícias do Oriente, senhor " disse o secretário.
Oliver olhou de soslaio, e pos a mão nos papeis.
"Alguma mensagem completa?" perguntou.
"Não, senhor; está interrompida de novo. É mencionado o nome do Sr. Felsenburgh".
Oliver pareceu não ouvir; ele levantou umas folhas impressas com um súbito movimento e começou a virá-las.
"A quarta de cima para baixo, Sr. Brand,” disse o secretário.
Oliver moveu a cabeça com impaciência, e o outro saiu como se em um sinal.
A quarta folha, impressa em vermelho sobre fundo verde, parecia absorver a atenção de Oliver completamente, pois ele a leu por completo de duas a três vezes, se reclinando imóvel em sua cadeira. A seguir, suspirou e de novo olhou pela janela.
Mais uma vez, a porta abriu e uma moça alta entrou.
"E então, meu querido?" ela observou.
Oliver meneou a cabeça, com lábios cerrados.
"Nada definido," ele disse. "Até mesmo menos que o usual. Ouça."
Ele pegou a folha verde e começou a ler em voz alta enquanto a garota se sentava à sua esquerda..
Ele era uma criatura encantadora, alta e esguia com olhos verdes sérios e ardentes, lábios vermelhos firmes e um bonito conjunto de rosto e ombros.
Ela tinha percorrido a sala enquanto Oliver pegava o papel e agora sentava com seu vestido marrom em uma atitude solene e graciosa. Ela parecia ouvir com deliberada paciência; mas seus olhos tremulavam com interesse.
"'Irkutsk—14 de Abril--Ontem--como--sempre--Mas—rumores de--
deserção--do--partido--Sufi-- Tropas--continuam—a se reunir--
Felsenburgh--discursou--multidão—budista--Atentado--ao--Lama—Sexta-feira—passada---trabalho--of--Anarquistas--Felsenburgh--indo--para--Moscou—conforme combinado—ele…Isto é absolutamente tudo,” terminou Oliver desanimado. “ Interrompido como sempre.”
A moça começou a balançar um pé.
"Não entendi nada," ela disse. "Quem é Felsenburgh, afinal?"
"Minha querida, isto é o que todo mundo está perguntando. Nada se sabe, exceto que ele foi incluído na delegação americana no último momento. O Herald publicou sua biografia na semana passada; mas foi contestada.
É certo que ele é jovem e que é um desconhecido até o momento."
"Então, ele não é obscuro agora," observou ela.
"Sim; parece que ele está dirigindo a coisa toda. Não se ouve uma palavra dos outros. Temos sorte de que ele esteja no lado certo."
"E o que você acha?"
Oliver virou seus olhos vazios de novo pela janela.
"Eu acho isto muito crítico," ele disse. "A única coisa notável é que aqui pouca gente parece perceber. É grande demais para imaginar, eu suponho. Não há dúvida de que o Oriente está preparando para cair sobre a Europa neste últimos cinco anos. Eles têm sido apenas vigiados pela América; e isto é apenas uma última tentativa de pará-los. Mas por que Felsenburgh deveria ir para o fronte---“ ele interrompeu.” Ele deve ser um bom linguista, talvez. Esta é pelo menos a quinta multidão para quem ele discursou, talvez ele seja apenas um intérprete americano. Cristo! Como gostaria de saber quem ele é.”
"Ele tem algum outro nome?"
"Julian, eu acho. Uma mensagem fala isso."
"Como é que isto se sucedeu?"
Oliver balançou a cabeça.
"Empreendimento privado," ele disse. "As agências europeias pararam de trabalhar.
Toda estação telegráfica é vigiada dia e noite. Há linhas de volors espalhados por toda a fronteira. O Império tenciona resolver este problema sem nós."
"E se der errado?"
"Minha querida Mabel—se o inferno acontecer---" lançou suas mão ao ar com um tom depreciativo.
"E o que o Governo está fazendo?"
"Trabalhando dia e noite; como todo o resto da Europa. Será o Armagedom se vier a guerra."
"Quais são as chances que você vê?"
"Vejo duas chances," disse Oliver lentamente: "a primeira, que eles possam temer a América e possam se conter por medo; a segunda que eles possam se conter por caridade; se pelo menos eles pudessem entender que a cooperação é a única esperança do mundo. Mas aquelas malditas religiões deles---“
A garota suspirou e olhou para a série de telhados das casas abaixo da janela.
A situação era realmente séria mesmo. Aquele vasto Império, consistido de estados federalistas sob o Filho do Céus (criado pela fusão das dinastias japonesa e chinesa e com a queda da Rússia), estava consolidando suas forças e aprendendo com o seu próprio poder durante os últimos 35 anos.
Desde então, na verdade, ele tinha posto as mãos na Austrália e India.
Enquanto o resto do mundo aprendera a insensatez da guerra, desde a queda da república russa sob o ataque combinado das raças amarelas, a outra parte sabia de suas possibilidades. Parecia agora como se a civilização do último século deveria se empurrada novamente para o caos.
Não era que a populaça do Oriente se importava muito; era seus governantes que começavam a serem mais ambicionos depois de uma quase eterna letargia, e era difícil imaginar como eles poderiam ser detidos a este ponto. Havia rumores sombrios de que o fanatismo religioso estava por detrás do movimento e que o paciente Oriente propunha finalmente converter pelos modernos equivalentes de ferro e fogo aqueles que havia colocado, de lado pela maior parte, todas as crenças religiosas exceto aquela na Humanidade.
Para Oliver, isto era simplesmente enlouquecedor. Ao olhar pela janela, ele via a vasta área de Londres em paz diante dele, e sua imaginação corria pela Europa e via o triunfo do bom senso e dos fatos sobre os contos da carochinha da Cristandade, parecia intolerável que houvesse uma possibilidade de que tudo isso voltasse a ser lançado de novo no tumulto bárbaro de seitas e dogmas; pois é o que ocorreria com o Oriente tomando posse da Europa. Mesmo o Catolicismo iria reviver, disse a si mesmo, aquela estranha fé que tinha sido queimada em chamas tantas vezes quando as perseguições se apressaram a derrubá-la; e, de todas as formas de fé, para a cabeça de Oliver, Catolicismo era a mais grotesca e escravizante. E o prospecto de tudo isso realmente o preocupava, muito mais que o pensamento de catástrofe real e banho de sangue que seria infligido à Europa com o advento do Oriente.
Havia apenas uma esperança do lado religioso, conforme ele havia dito para Mabel uma dezena de vezes, e era a de que o Panteísmo Sereno, que desde do último século havia feito grande progresso tanto no Oriente e Ocidente, entre eles os Maometanos, Budistas, Hinduístas, Confucionistas e os demais, deveria valer-se de deter o frenesi sobrenaturral que inspirava os irmãos esotéricos.
O Panteísmo, ele entendia, era o que ele mesmo sustentava; para ele, “Deus” era a somatória do vida criada e desenvolvida e Unidade impessoal do Seu ser; a competição era então a grande heresia que colocava os homens uns contra os outros e atrasava todo o progresso; pois, segundo ele, o progresso residia na fusão do individuo na família, da família na pátria, da pátria no continente, e do continente no mundo.
Finalmente, o próprio mundo em algum momento não era mais que o temperamento da vida impessoal. Era, de fato, a ideia católica com o sobrenatural deixado de lado, uma união de destinos terrenos, um abandono do individualismo por um lado, e sobrenaturalismo de outro. Era traição apelar do Deus Imanente para o Deus Transcendente, não havia Deus transcendente; Deus, até onde Ele poderia ser conhecido, era homem.
Contudo estes dois, marido e mulher , estes dois estavam muito longe de compartilhar a costumeira e forte apatia dos meros materialistas. O mundo, para eles, batia com uma vida ardente brotando em flor, animal e homem, uma torrente de vigor esplêndido fluindo de uma fonte profunda e que irriga tudo que movia ou sentia.
Seu romance era o mais apreciável porque era compreensível para as mentes que nasciam dele; havia mistérios nele, mas mistérios que entiçavam em vez de deixar de serem explicados, pois eles mostravam novas glórias com toda a descoberta que o homem poderia fazer; até mesmo objetos inanimados, o fóssil, a corrente elétrica, as estrelas distantes, estes tinha a poeira sacudida pelo Espírito do Mundo- enlevado com Sua Presença e eloquente por Sua Natureza.
Por exemplo, o anúncio feito por Klein, o astrônomo, vinte anos antes, de que a vida em determinados planetas tinha se tornado um fato comprovado—como isto havia alterado em muito as visões do homem diante de si próprio.
Mas a única condição de progresso e a construção de Jerusalém, no planeta que era o lugar de habitação do homem, era a paz, não a espada que Cristo trouxe. ou com a qual Maomé brandiu; mas a paz que se criou pelo entendimento; a paz que nasceu do conhecimento que o homem era tudo e era capaz de desenvolver a si próprio somente pela simpatia com seus companheiros.
Para Oliver e sua esposa, então, o último século parecia como uma revelação; pouco a pouco as velhas supertições se desvaneciam, e o nova luz se espalhava; o Espírito do Mundo O tinha despertado; e agora com horror e repulsa que viam as nuvens sombrias se reunirem novamente
* * * * *
Mabel se levantou e veio até seu marido.
"Meu querido," disse ela, "você não deve ficar abatido. Isto tudo pode passar como passou outrora. É bom saber que agora eles estão ouvindo a América realmente. E este Sr. Felsenburgh parece estar do lado certo."
Oliver pegou sua mão e a beijou.
FIM DA 1ª PARTE DO CAPÍTULO 1
2 comentários:
Caro Valdemir, meus parabéns pela grande iniciativa de traduzir esta obra que a muito gostaríamos de ver editada no Brasil. Saiba, e tenha certeza de que é uma valiosa contribuição e precioso legado.
Athayde
Athayde, esta é uma primeira tradução. Talvez ao chegar ao final do livro, irei sentir a necessidade de revisar toda a tradução, isto é, melhorar o "filho" criado. Uma tradução, tipicamente como este romance futurista, exige revisões para chegar o mais perto possível da intenção/ideia do autor.
Obrigado!
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