domingo, 13 de novembro de 2011

O Senhor do Mundo

Esta é uma tradução do livro de Robert Hugh Benson, O Senhor do Mundo (The Lord of the World). Foi pedida por Alexandre Moreira Fernandes. Contudo, será publicada em partes, sendo que a primeira será o Prólogo, que por sinal é bastante extenso. O texto vai parecer confuso e cheio de informações, que deverão ser melhor explicadas no decorrer dos capítulos seguintes.
Que não se confunda com o Senhor do Mundo, de Júlio Verne, um dos meus escritores preferidos.
Descrito por algum críticos como um dos três maiores livros sobre o advento do demonismo na literatura mundial. Neste livro, o Ocidente sucumbe a uma espécie de socialismo internacional. As forças triunfantes do materialismo secular, relativismo e controle do estado estão por todos os lados. Não há mais Protestantismo, e o Catolicismo, que teve maior avanços na primeira metade do século 20, tem sido devastado pelo desenvolvimento de novas psicologias. A eutanásia se tornou um instrumento do Estado, o Esperanto a segunda língua universal. E por final, o Oriente, que se amalgamou-se em um único bloco panteísta, continua a ser uma ameça militar. Aparece o Anticristo...
Um pouco sobre Robert Benson.

Robert Hugh Benson (18 November 1871 – 19 October 1914)

Benson foi educado no Colégio Eton e estudou os clássicos e teologia

no Colégio Trinity, em Cambridge de 1890 a 1893.

Benson pai morreu subitamente em 1896 e ele foi enviado em uma viagem ao Oriente Médio para recuperar a sua própria saúde. Enquanto estava lá, ele começou a questionar o status da Igreja da Inglaterra e para considerar as reivindicações da Igreja Católica Romana .

Benson foi ordenado como um sacerdote católico romano em 1904 e enviado para Cambridge. Ele continuou sua carreira de escritor, juntamente com o seu ministério como padre.

Foi feito a um monsenhor em 1911.

Mais informações sobre ele e suas obras em : http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Hugh_Benson


Senhor do Mundo

de Robert Hugh Benson

Dedicado a Clavi Domus David

Prefácio

Tenho certeza absoluta de que este é um livro sensacional e aberto a inúmeras críticas. Não soube como expressar os princípios que desejava (e os quais eu acredito apaixonadamente serem verdadeiros), mas os escrevi as linhas deste livro com entusiasmo. Tentei, contudo, não bradar excessivamente, e sim manter tanto quanto possível a reverência e a consideração pelas opiniões das pessoas. Se eu consegui na tentativa, isto é outro assunto.

Robert Hugh Benson.

CAMBRIDGE 1907.

As pessoas, que não gostam de prólogos aborrecidos, não precisam ler este. É essencial apenas para a situação, não para a estória.

PRÓLOGO

“Dê-me um momento, “disse o velho senhor, recostando.

Percy se ajeitou na cadeira e esperou, com a mão no queixo.

Era uma sala silenciosa onde se sentavam três homens, mobiliada com o gosto comum da época. Não tinha janelas ou portas; pois já fazia agora sessenta anos desde que muitos se decidiram morar debaixo da superfície. A casa do velho Sr. Templeton ficava a aproximadamente doze metros abaixo do nível do Rio Tâmisa. O local era bem localizado, pois necessitava caminhar apenas 90 metros até a estação. Ele tinha 90 anos de idade, e raramente saia de casa nestes tempos. A sala fora revestido todo com delicado esmalte verde-jade, prescrito pelo Conselho de Saúde, e era iluminado com a luz artificial, descoberta pelo grande Reuter quarenta anos atrás; tinha o tom de cor de madeira da primavera, e era aquecida e ventilada à temperatura exata de 18 graus centigrados. O Sr. Templeton era um homem simples, satisfeito por viver igual a como seu pai vivera. Os móveis eram um pouco ultrapassados relembrando mogno. Estantes bem preenchidas montadas de vários lados, diante do qual se sentavam três homens; e nos cantos ficam os elevadores hidráulicos que permitiam a entrada de um ambiente para outro e para o corredor quinze metros acima , que abria para a superfície do rio.

Padre Percy Franklin, o mais idoso dos dois padres, era mesmo um homem de aparência notável, não mais que trinta e cinco anos de idade, mas com cabelos todos brancos, olhos acinzentados. Suas sobrancelhas negras eram particularmente brilhantes e quase ardentes; mas seu queixo e nariz proeminentes e a extrema resolução de sua boca indicava seu temperamento ao observador. Quem acabava de conhecê-lo, geralmente olhava duas vezes para ele.

Padre Francis, por sua vez, sentava em uma cadeira reta do outro lado da lareira, tinha olhos castanhos agradáveis e comoventes, mas não havia robustez na sua face; havia uma tendência para melancolia feminina nos cantos da boca e uma acentuada queda das pálpebras.

O Sr. Templeton era apenas um velho senhor, com rosto vigoroso e enrugado, mas bem barbeado, e agora se recostava em seus travesseiros e com um acolchoado sobre seus pés.

* * * * *

Finalmente, ele falou, olhando primeiro para Percy, à sua esquerda.

“Bem,” disse ele, “é muito importante lembrar exatamente; mas isto é como eu vejo.”

“Na Inglaterra, nosso partido foi seriamente alertado no Parlamento Trabalhista de 1917. Isto nos mostrou o quão profundo o Herveismo havia impregnado todo o ambiente social. Havia socialistas antes, mas não como Gustave Herve — pelo menos ninguém do mesmo poder. Ele, talvez vocês tenham lido, ensinava Materialismo e Socialismo puros. Patriotismo, ele disse, era uma relíquia do barbarismo; e o prazer sensual era o único bem. É claro, todos riram dele. Foi dito que sem religião, não poderia haver inclinação adequada pela população para até mesmo a mais simples ordem social. Mas parecia que ele estava certo. Depois da queda da Igreja Francesa, no começo do século e os massacres de 1914, a burguesia resolveu se organizar; e aquele movimento extraordinário iniciado com seriedade, levado pela classe média, sem patriotismo, sem distinção de classes e praticamente sem exército. É claro, a Maçonaria dirigia tudo isso. Isto se espalhou para a Alemanha, onde a influência de Karl Marx já havia---”

“Sim, senhor,” disse Percy calmamente, “mas e com relação à Inglaterra, se não se importa---”

“Ah, sim; Inglaterra, Bem, em 1917, o partido trabalhista se refreou, e o Comunismo realmente começou. Isto foi muito antes do que posso lembrar, é claro, mas meu pai costumava datar desde então. A única curiosidade era que as coisas não iam adiante com rapidez; mas suponho que havia bastante influência dos Torys ainda. Além disso, os séculos geralmente passavam mais lentamente do que esperado. Mas a nova ordem começara então; e os Comunistas nunca sofreram um sério revés , exceto um pequeno em ´25. Blenkin fundou “O Novo Povo” então; e o “Times” fechou; mas não foi tão estranho até que em ´35 a Câmara dos Pares (Suprema Corte) caiu pela última vez. A Igreja Estabelecida havia acabada em `29.”

“E o efeito religioso disso?” perguntou Percy rapidamente, enquanto o velho senhor pausou um pouco, para tossir de leve. O padre estava preocupado em manter o foco.

“Foi um efeito,” disse o outro, “do que propriamente uma causa. Veja você, os Ritualistas, assim eles costumavam ser chamados, após uma tentativa desesperada em entrar na linha dos Trabalhistas, entraram na Igreja após a Convocação de '19, quando foi retirado o Credo de Nicéia. Mas como houve um efeito desde o final Desestabelecimento, eu acho que foi o que restou da Igreja do Estado diluída na Igreja Livre, e a Igreja Livre era, afinal, pequena. A Bíblia foi completamente abandonada como autoridade após os renovados ataques germânicos nos anos 20. A teoria Cenótica contribuiu para o desaparecimento da Divindade do Nosso Senhor.

Então, houve aquele estranho movimento entre os Eclesiásticos Livres; quando os ministros, que não faziam mais que seguir a corrente, saíram de suas velhas posições. É curioso ler na história dos tempos, como eles eram chamados de pensadores independentes. Era justamente o que eles não eram... Onde eu estava? Ah, sim... Bem, isso limpou o espaço para nós, e a Igreja fez extraordinário progresso por um momento—extraordinário, isto é, sob as circunstâncias, porque você deve se lembrar, as coisas eram muito diferentes de vinte, ou até mesmo dez anos antes. Quero dizer que, falando a grosso modo, havia começado o decepamento de ovelhas e cabras. As pessoas religiosas eram praticamente todas Católicas e Individualistas; as não religiosas rejeitavam o sobrenatural completamente, e eram Materialistas e Comunistas. Mas fizemos progresso, porque nós tínhamos alguns homens excepcionais- Delaney, o filósofo, McArthur e Largent, os filantropistas, e assim por diante. Realmente, parecia que Delaney e seus discípulos poderiam fazer de tudo. Vocês se lembram da sua “Analogia”? Ah, sim, está tudo nos livros...

“Bem, então, ao término do Conselho do Vaticano, que tem sido convocado desde o século 19, e nunca foi dissolvido, perdemos muitos nas definições finais. O “Êxodo dos Intelectuais”, era chamado pelo Mundo---”

“As decisões Bíblicas,” colocou o padre mais jovem.

“Isto parcialmente, e todo o conflito que se iniciou com o advento do Modernismo no começo do século, mas muito mais pela condenação de Delaney, e do Novo Transcendentalismo, de modo geral como fora compreendido. Ele morreu fora da Igreja, vocês sabem. Então, houve a condenação do livro de Sciotti na Religião Comparada...Depois que os comunistas deram grandes passos, sem bem que lentamente. Parece extraordinário para vocês, ouso dizer, mas não imaginam a emoção causada, quando o Ato dos Ofícios Necessários tornou-se lei em ’60. As pessoas pensaram que todo empreendimento se paralisaria, quando tantas profissões foram estatizadas, mas, como vocês sabem, não ocorreu.”

“Em que ano o Ato da Maioria dos Dois Terços foi aprovado?” perguntou Percy.

“Ah! Muito antes—depois de um ano ou dois da queda da Câmara dos Pares. Foi necessária, eu acho, ou os Individualistas teriam ficado loucos... Bem, o Ato dos Ofícios Necessários foi inevitável: as pessoas havia começado a entender desde o tempo em que foram municipalizadas. Por um momento, houve um surto das artes; porque todos os Individualistas que podiam, entraram nisso (foi então quando a escola Toller foi fundada); mas eles logo mudaram para emprego público; afinal, o limite de 6% para toda a empresa individual não era mesmo uma tentação; e o Governo pagava bem.”

Percy meneou a cabeça.

“Sim; mas não consigo entender o atual estado das coisas. Você disse agora pouco que as coisas caminharam lentamente?”

“Sim,” disse o velho, “ mas vc deve se lembrar das Leis dos Pobres. Isto estabeleceu os Comunistas para sempre. Certamente, Braithwaite sabia o que fazia.”

O padre mais jovem olhou inquiridamente.

“A abolição da antigo sistema de asilo para pobres.” Disse Mr. Templeton. “É tudo história antiga para você, é claro, mas eu me lembro como se fosse ontem. Foi isso que trouxe abaixo o que era ainda chamado Monarquia e as Universidades.”

“Ah,” disse Percy. “ Eu gostaria de ouvir vc falar sobre isso, senhor.”

“Atualmente, padre... Bem, isto é o que Braithwaite fez. Pelo antigo sistema, todos os pobres eram tratados igualmente, e ressentiam disso. Pelo novo sistema, havia as três faixas que temos , e a admissão de duas faixas mais elevadas. Somente os absolutamente sem valor eram designados para a terceira faixa, e tratados mais ou menos como criminosos—claro que após cuidadosa verificação. Depois, havia a reorganização das Pensões da Velhice. Bem, não dá para ver como isto fortaleceu os Comunistas? Os Individualistas—assim eram chamados os Tories, quando eu era garoto—não tiveram chance desde então. Não são mais que restos agora. Todas as classes operárias—uns 99%—eram todas contra eles.”

Percy fitou, mas o outro continuou.

“Depois, houve o Ato da Reforma Presidiária de Macpherson, e a abolição da punição capital; havia o Ato Educacional final de ’59, por onde o secularismo dogmático foi estabelecido; a abolição completa da herança sob a reforma das Obrigações do Falecimento---“

“Eu me esqueço de como era o antigo sistema,” disse Percy.

Primeiro veio o Ato das Heranças, levando à aceitação das doutrinas de Karl Marx em ’89---mas o primeiro veio em ’77.... Bem, todas estas coisas manteve a Inglaterra ao nível do Continente; ela esteve a tempo de se juntar no esquema final do Comércio Livre Ocidental. Houve o primeiro efeito, lembram-se, da vitória dos Socialistas na Alemanha.”

“E como conseguimos ficar fora da Guerra Oriental?” perguntou Percy ansiosamente.

“Ah! Esta é uma longa história; mas, em apenas uma frase, a América nos deteve; assim perdemos a Índia e Austrália. Acho que foi perto da queda dos Comunistas em ’25. Mas Braithwaite saiu bem dessa, conseguindo para nós o protetorado da África do Sul. Ele já era um velho senhor na época, também.

Sr. Templeton parou para tossir novamente. Padre Francis suspirou e se reajustou na cadeira.

“E a América?” perguntou Percy.

“Ah! Foi muito complicado. Mas ela sabia da sua força e anexou o Canadá no mesmo ano. Isto foi quando nós estávamos mais fracos.”

Percy se levantou.

“Vc tem um Guia Geográfico do Mundo, senhor?” ele perguntou.

O velho senhor apontou para a a estante.

“Ali,” disse.

* * * * *

Percy olhou as páginas por um tempo em silêncio, debruçando-as no colo.

“É tudo muito simples, com certeza,” murmurou ele, olhando primeiramente para o mapa de colorido diversificado do começo do século 20 e depois para as grandes extensões do século 21.

Moveu seu dedo pela Ásia. As palavras Império Oriental percorriam sobre a cor amarela pálida, desde os Urais na esquerda ao Estreito de Behring na direita, e seguindo em letras curvas pela Índia, Austrália e Nova Zelândia. Ele olhou para a cor vermelha, era consideravelmente menos, mas ainda importante, considerando que não somente a própria Europa, mas toda a Rússia até os Urais, e a África ao Sul. A região em azul chamada de República Americana cobria uma vasta área

"Sim, é simples," disse o velho senhor secamente.

Percy fechou o livro e colocou ao lado de sua cadeira.

“E depois, senhor? O que acontecerá?”

O velho estadista Tory sorriu.

“Só Deus sabe,” disse ele. “ Se o Império Oriental achar que deve se mover, nós não podemos fazer nada. Não sei porque eles não se mexeram. Suponho que seja devido a diferenças religiosas.”

“A Europa não vai se dividir?” perguntou o padre.

“Não, não. Conhecemos nosso perigo agora. E a América irá certamente nos ajudar. Contudo, para mim, que Deus nos ajude--- ou vocês, eu deveria dizer—se o Império se mexer! Ele sabe de sua força finalmente.”

Houve silêncio por um momento. Houve um certo tremor, como se alguma enorme máquina tivesse passado por cima da larga avenida onde estavam.

“Profecia, senhor,” disse Percy de repente. “Quero dizer religião.”

Sr. Templeton inspirou longamente. Depois, continuou de novo com seu discurso.

“Brevemente,” disse ele, “haverá três forças---Catolicismo, Humanitarismo e as religiões orientais. A respeito desta terceira, eu não consigo profetizar, embora eu ache que os Sufis serão vitoriosos. Qualquer coisa pode acontecer; o Esoterismo está dando grandes passos—e isto significa o Panteísmo; e a mistura das dinastias chinesa e japonesa nos deixa sem previsão. Mas na Europa e na América, não há duvida de que disputa reside entre os dois primeiros. Não podemos negligenciar todo o resto. E, eu acho que se vc quer ouvir o o que eu acho, o Catolicismo vai decrescer rapidamente. É perfeitamente claro que o Protestantismo está morto. Os homens reconhecem finalmente que uma Religião sobrenatural envolve uma autoridade absoluta, e que o Julgamento Privado nas questões de fé, é nada mais que o começo da desintegração. Também é verdade que desde que a Igreja Católica é a única instituição que sempre reclama autoridade sobrenatural, com toda sua lógica impiedosa, ela tem novamente a aliança de praticamente todos os cristãos, que tem ainda alguma crença sobrenatural. Há ainda alguns modistas, especialmente na América e aqui; mas são mínimos.

Tudo está muito bem; mas, por outro lado, devem se lembrar que o Humanitarismo, contrário a todas as expectativas pessoais, está se tornando um religião verdadeira, embora sendo anti-sobrenatural. É o Panteísmo; desenvolvendo um rito sob a Maçonaria; ela tem um credo, “Deus é o Homem,” e o resto. Ela tem, portanto, um verdadeiro alimento, de certa forma, a oferecer aos desejosos; ela idealiza, contudo não exige dons espirituais. Então, eles usam todas as igrejas, exceto a nossa, e todas as Catedrais; e eles estão começando afinal a encorajar sentimento. Assim, eles podem mostrar seus símbolos e nós não podemos: Eu acho que eles se estabelecerão legalmente em dez anos no mais tardar.

“Já, nós Católicos, lembrem-se, estamos perdendo; perdemos bastante por mais de cinquenta anos. Suponho que tenhamos, nominalmente, cerca de 1/40 de toda a América neste momento--- e isto é resultado do movimento Católico no começo dos anos 20. Não estamos em nenhum lugar na França e Espanha; na Alemanha somos poucos. Sustentamos nossa posição no Oriente, certamente; mas mesmo lá não temos mais que 1/200—conforme as estatísticas- e estamos espalhados. Na Itália? Bem, temos Roma de novo para nós, mas nada mais; aqui, nós temos a Irlanda toda e talvez 1/60 da Inglaterra, Pais de Gales e Escócia; mas estávamos com 1/40 há setentas anos.

Então, há um enorme progresso da Psicologia—tudo claro contra nós por pelo menos um século. Primeiro, vejam, houve o Materialismo, puro e simples, mas que tinha algumas falhas--- era muito cru—até que a Psicologia veio para resgatar. Agora, a Psicologia reclama todo o resto do espaço; e o senso sobrenatural parece explicado. Não, padre, estamos perdendo; e devemos continuar a perder, e acho que devemos até estar prontos para uma catástrofe a qualquer momento.”

“Mas---" disse Percy.

"Não vejo esperança. Na verdade, me parece que até mesmo agora algo pode vir sobre nós rapidamente. Não; eu não tenho esperança até que---“

Percy fitou com firmeza.

“Até que nosso Senhor volte,” disse o velho estadista.

Padre Francis suspirou mais uma vez e houve um silêncio.

* * * * *

"E a queda das Universidades?" disse Percy finalmente.

“Meu caro padre, foi exatamente como a queda dos Monastérios sob Henry VIII—os mesmos resultados, os mesmos argumentos, os mesmos incidentes. Houve as fortalezas do Individualismo, como os Monastérios foram as fortalezas do Papado; e eles foram considerados com a mesma admiração e reverência. Depois, a costumeira série de observações começaram a respeito da quantidade de vinho do porto bebido; e de repente, que os companheiros estavam confundindo meios por fins. Depois de tudo, considerando o sobrenatural, as Casas Religiosas são uma óbvia consequência; mas o objetivo da escola secular é presumidamente a produção de algo visível--- ou caráter ou competência; e isto tornou-se completamente impossível provar que as Universidades produziam qualquer um- que valeria a pena ter.

“Sim?” disse Percy.

"Ah, foi patético o bastante. As Escolas Científicas de Cambridge e o Departamento Colonial de Oxford foram a última esperança; e depois estes se foram.

Os velhos professores viviam entre os seus livros, mas ninguém os queria--- eles eram demasiados teóricos; alguns acabavam em asilos, primeira ou segunda faixa; alguns era cuidados por clérigos de instituições de caridade; houve aquela tentativa de se concentrar em Dublin; mas falhou, e as pessoas logo os esqueceram. Os edifícios , como sabem, foram usados por todas as espécies de coisas. Oxford tornou-se um estabelecimento de engenharia por um tempo, e Cambridge uma espécie de laboratório do Governo. Eu estava no King´s College, vocês sabem. Claro que tudo foi bastante horrível--- embora eu esteja grato que eles mantiveram a capela aberta, mesmo como um museu. Não foi agradável ver os altares preenchidos com espécimes anatômicas.”

“O que aconteceu com vc?”

“Ah! Eu estava logo no Parlamento; e eu tinha um pouco de dinheiro meu, também. Mas era muito difícil para alguns deles; eles tinham pequenas pensões, pelos menos todos que tinham trabalhado. E ainda, eu não sei: eu suponho que tinha de vir. Eles eram um pouco mais que sobreviventes pitorescos, vocês sabem; e não tinham a graça de um fé religiosa com eles.”

Percy suspirou novamente, olhando para o rosto levemente humoroso do velho. Então, ele de repente mudou o assunto novamente.

“E sobre este Parlamento Europeu?” ele disse.

O velho continuou.

“Ah!..Eu acho que vai passar.” A tudo que este último século tem nos levado, como vocês podem ver. Patriotismo está morrendo depressa, mas devia ter acabado, como escravidão e assim por diante, sob a influência da Igreja Católica. Como está, o trabalho tem sido feito sem a Igreja; e o resultado é que o mundo está começando a se enfileirar contra nós; é um antagonismo organizado—uma espécie de Igreja Anti-Católica. A democracia tem feito o que a Monarquia Divina deveria ter feito. Se a proposta passar, eu acho que podemos esperar algo como perseguição uma vez mais... Mas, de novo, a invasão oriental pode nos salvar, se ela iniciar... eu não sei...”

Percy sentava-se imóvel por um momento, e daí ele se levantou de repente.

“Eu devo ir, senhor,” ele disse, recaindo em Esperanto. “ São 7 horas da noite. Muito obrigado. Vc vem, padre?”

Padre Francis se levantou também, no terno cinza escuro permitido aos padres, e pegou seu chapéu.

“Muito bem, padre,” disse o velho de novo, “ volte algum dia, caso eu não tenha sido muito prolixo. Eu suponho que vc tem que escrever sua carta ainda?”

Percy confirmou com a cabeça.

“Eu fiz metade dela esta manhã,” ele disse, “ mas eu senti que precisaria fazer uma nova revisão, antes que eu pudesse compreender propriamente; sou muito grato a você por ter dado a mim.É realmente um grande trabalho, esta carta diária para o Cardeal-Protetor. Estou pensando em renunciar se me for permitido.”

“Meu caro padre, não faça isso. Se eu posso lhe ser franco, eu acho que você tem uma mente muito sagaz; e a menos que Roma tenha melhor informação, ela não pode fazer nada. Eu não suponho que seus colegas sejam tão cuidadosos como você próprio.”

Percy sorriu , levantando suas sobrancelhas com reprovação

"Venha, padre," ele disse.

* * * * *

Os dois padres partiram pelos degraus do corredor, e Percy ficou por um minuto ou dois fitando a cena familiar de outono, tentando entender o que aquilo tudo significava. O que ele tinha ouvido escada abaixo, parecia estranho perante a visão de esplêndida prosperidade que estava à sua frente.

O ar estava maravilhoso; com a luz artificial, Londres agora não sabia diferenciar entre o escuro e o claro. Ele permanecia de pé, sob o solo rígido feito de uma preparação de borracha nos quais os passos não faziam barulho. Debaixo dele, ao pé da escada, havia uma fila dupla sem fim de pessoas separadas por uma divisória, indo para direita e esquerda, sem barulho, exceto pelo murmúrio de conversar em Esperanto, que parecia sem fim passarem. Pelo vidro rígido e cristalino da passagem do público, havia um estrada negra e larga significantemente vazia, mas mesmo quando ele estava ali de pé, um som soava ao longe vindo da Velha Westminster, como o som de uma grande colmeia, de repente o som aumentou, e em um instante depois, uma coisa transparente passou rápido, arremetendo-se para o lado leste dos Correios.

Esta era uma estrada privilegiada. Apenas veículos públicos eram permitidos usá-la, e desde que em uma velocidade não superior a cem milhas por hora.

Outros sons eram abrandados nesta cidade de borracha; o transporte de passageiros estava a cem metros dali, e o tráfego subterrâneo ficava muito abaixo que somente uma pequena vibração se poderia sentir. Os técnicos do Governo estavam trabalhando nos últimos 20 anos para eliminar a vibração e o som dos veículos comuns.

Antes que ele se mexesse, houve um som por cima, surpreendentemente bonito e agudo, e, ao levantar os olhos , ele viu de frente para as nuvens iluminadas, um longo e fino objeto, brilhando com uma luz suave, deslizar-se para o norte e desparecer. Aquele som musical era de uma linha europeia de Volors, anunciando sua chegada na capital da Grã Bretanha.

“Até que Nosso Senhor volte, “ pensou ele consigo mesmo, e por um instante a velha tristeza apunhalou seu coração. Com era difícil manter o os olhos focados naquele horizonte ao longe, quando o mundo ali estava à sua frente, tão chamativo no seu esplendor e na sua força! Oh, ele tinha discutido com o Padre Francis há uma hora que tamanho não é o mesmo que grandeza, e que uma imagem externa insistente não poderia excluir uma imagem sutil interior; e ele tinha acreditado com grande esforço, clamando de seu coração para que o Pobre Homem de Nazaré o mantivesse com o coração de uma criança.

Então, cerrou seus lábios, se perguntando por quanto tempo Padre Francis poderia suportar a pressão, e desceu a escada.

FIM DO PRÓLOGO

PRÓXIMO CAPÍTULO - O ADVENTO.

6 comentários:

Fragmentos disse...

Prezado Valdemir,

Agradeço e continuarei agradecendo pela extrema caridade em traduzir este livro espetacular, inteligente e profético (por que não?), pelo menos em muitos pontos.
Ademais, o livro é extenso e recheado de peculiaridades, o que aumenta sobremaneira o trabalho de traduzi-lo.
Espero que muitas pessoas façam excelente proveito desta fantástica obra.

Agradecimentos reiterados,

Alexandre

T. d'Amore Konorat disse...

Caro Valdemir,

Aguardaremos ansiosos pelos próximos capítulos.

Que Deus lhe pague essa imensa gentileza.

Tatiana Konorat

Cassiodoro de Carvalho disse...

Caro Valdemir,

Sou mais um que lhe agradeço por nos dar a oportunidade de ler este livro realmente muito bom.

Não deixe de terminá-lo, por favor!

Cassiodoro

Fragmentos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Católica Apostólica Romana disse...

Bom trabalho. Parabéns. ~Imensamente grata.

Anônimo disse...

Muitíssimo obrigada!!! Há muito tempo eu procurava encontrar esta obra traduzida! Taís