LIVRO 1 – O ADVENTO - CAPÍTULO 1 – PARTE 2
Oliver parecia bastante deprimido no café da manhã, meia hora depois. Sua mãe, uma idosa senhora de 80 anos, que jamais aparecia até o meio dia, parecia perceber de imediato, pois só de um olhar ou dois para ele e uma palavra, ela já ficava em silêncio na mesa.
Era uma sala pequena e agradável na qual estavam, logo atrás da sala de Oliver, e era mobiliada, de acordo com o costume da época, em verde claro. As janelas se abriam para um jardim nos fundos e para o muro com trepadeiras que separava este domínio do vizinho. Os móveis, também, era da espécie comum, uma razoável mesa redonda ficava no meio, com três altas cadeiras de braços, angulares, com assentos apropriados e colocadas para dentro da mesa; e no centro dela, com sua larga coluna de apoio, estavam os pratos.
Já fazia 30 anos agora desde que a prática de colocar a sala de jantar acima da cozinha, a fim de que os elevadores hidráulicos levassem para cima e para baixo a comida e os pratos diretamente para o centro da mesa de jantar, tinha se tornado padrão nas casas dos abastados. O chão consistia inteiramente de uma mescla de amianto com cortiça, inventado na América, sem ruídos, limpo e agradável para os pés e para os olhos.
Mabel quebrou o silêncio.
"E seu discurso de amanhã?" perguntou ela, pegando seu garfo.
Oliver se animou um pouco e começou a falar.
Parecia que Birmingham estava começando a se incomodar. Eles estavam clamando de novo para o comércio livre com a América. As instalações europeias não eram suficientes, e era do interesse de Oliver mantê-los quietos. Era inútil, ele propunha dizer a eles, causar agitação até que o assunto Oriente estivesse resolvido: eles não deviam incomodar o Governo com tais detalhes neste momento. Ele deveria dizer a eles, também, que o Governo estava inteiramente do lado deles; que estava fadado a acontecer logo.
“Eles são teimosos,” disse com firmeza; “teimosos e egoístas; eles são como crianças que choram por comida dez minutos antes da hora de comer; vai chegar se eles saberem esperar um pouco.”
"E você vai dizer assim para eles?"
"Que eles são teimosos? Com certeza."
Mabel olhou para seu marido com um abrir e fechar dos olhos. Ela sabia perfeitamente que sua popularidade estava largamente em sua franqueza: as pessoas gostavam de ser repreendidas por um homem audacioso e inteligente que gesticulava com fúria magnética; ela também gostava.
“Como você irá?”, ela perguntou.
"De Volor. Vou pegar o das 18 horas na estação Blackfriais; a reunião é às 19, e eu estarei de volta às 21.”
Ele se dirigiu então ao prato principal com vigor e sua mãe olhou com um sorriso paciente.
Mabel começou a tamborilar os dedos suavemente na toalha da mesa.
"Favor se apressar, meu bem," ela disse; "Eu tenho que estar em Brighton às 3."
Oliver engoliu a última garfada, afastou o prato e olhou para ver se todos os pratos estavam no centro e daí, colocou sua mão por debaixo da mesa.
Num instante, sem sequer um som, a peça do centro da mesa desapareceu, e os três esperaram despreocupados enquanto o barulho do pratos seguia lá para baixo.
A velha Sra. Brand era uma senhora de semblante vigoroso, com rugas, mas de rosto rosado, com lenço na cabeça de cinquenta anos atrás; mas ela, também, parecia um pouco deprimida naquela manhã. O prato principal não fez muito sucesso, ela pensou; os novos alimentos não era tão bons quanto os de antigamente, era algo sem importância: ela se preocuparia com isto mais tarde. Houve um click e a peça central da mesa estava de volta no lugar, tendo a admirável imitação decoração de um ave assada.
Oliver e sua esposa estavam sozinhos novamente por um minuto ou dois após o desjejum antes que Mabel partisse para pegar o seu transporte das 14h30 da linha tronco.
“O que há com sua mãe?” ele disse.
"Ah! É sobre a comida de novo: ela não se acostuma; ela diz que não se dá bem com ela."
"Nada mais?"
"Nada mais, meu bem, tenho certeza disso. Ela não tenho falado muito ultimamente."
Oliver olhou tranquilo para sua esposa descer o caminho. Ele tinha ficado um pouco preocupado por alguns comentários de sua mãe. Ela tinha sido criada como uma Cristã por alguns anos e parecia para ele às vezes que ainda restasse um resquício. Havia um antigo livro “Jardim da Mente” que ela gostava de guardar, embora ela sempre reclamava com certo desprezo de que não era nada importante. Contudo, Oliver preferiria que o tivesse queimado; superstição era algo fútil para sustentar a vida. Cristianismo era ao mesmo tempo insensato e monótono, ele dizia para si, insensato pelas suas óbvias distorções e impossibilidades, e monótono porque estava totalmente ao largo do exuberante curso da vida humana; ele ainda se arrastava empoeirado, ele sabia, por entre escuras igrejas aqui e ali; com os sentimentalismos histéricos na Catedral de Westminster na qual ele havia entrado uma vez e contemplara com uma misto de raiva e repulsa; proferia palavras estranhas, falsas para o tolo ou o idoso. Mas seria terrível se sua própria mãe voltasse a seguir.
Até mesmo Oliver, desde quando ele podia se lembrar, havia sido completamente oposto a concessões a Roma e Irlanda. Era intolerável que estes dois lugares se cedessem a esta bobagem tola e traiçoeira: eram o viveiro da sedição; foco de pragas na face da humanidade. Ele nunca havia concordado com aqueles que diziam que era melhor que todo o veneno do Ocidente deveria ser reunido em vez de ser espalhado. Mas, de qualquer modo, lá estava. Roma tinha desistido completamente daquele velho de branco em troca de todas as paróquias e catedrais da Itália, e era claro que as trevas medievais reinavam supremas lá. A Irlanda havia se declarada pelo Catolicismo e abria seus braços para o Individualismo na sua forma mais virulenta. Inglaterra sorria e concordava, pois ela estava a salvo de agitações pela saída imediata de metade de sua população católica para aquela ilha e tinha, de acordo com a sua política colonialista comunista, permitindo todo o local para o Individualismo a fim de reduzir ele próprio lá ad absurdum. Todos os tipos de coisas engraçadas estavam acontecendo lá: Oliver havia lido sobre novas aparições, de uma Mulher em Azul e altares criados onde seus pés haviam pisado; mas ele leu também que Roma, pela mudança para Turim do Governo Italiano , havia tirado da República muito do seu prestígio sentimental, e tinha evidenciado o velha tolice religiosa com toda a viciosa prostituição histórica.Contudo, isso obviamente não poderia durar muito mais tempo: o mundo estava começando a mudar finalmente.
Ele permaneceu por um momento à porta após sua esposa sair, desfrutando da tranquilidade daquela visão gloriosa que se espalhava diante de seus olhos: os intermináveis telhados das casas; as grandes áreas envidraçadas de banhos públicos e academias; as escolas de prédios altos onde a Cidadania era ensinada todas as manhãs; os guindastes e andaimes estabelecidos aqui e ali. Lá se esparramava pela névoa cinzenta de Londres , realmente bonita, a grande multidão de homens e mulheres que tinham aprendido finalmente a lição básica do testamento de que não havia Deus algum a não ser o próprio homem, não havia padres, mas sim o políticos, não havia profetas, mas o professor.
A seguir, voltou novamente para preparar seu discurso.
* * * * *
Mabel, também, estava um pouco pensativa enquanto sentava com seu jornal no colo, trafegando pela linha até Brighton.
As notícias do Oriente eram mais desconcertantes para ela que ela deixava seu marido ver; contudo, parecia inacreditável de que pudesse haver algum real perigo de invasão. A vida ocidental era tão apreciável e pacífica; as pessoas tinham finalmente ido para o chão firme. Era impensável que elas pudessem ser forçadas a voltar para os lamaçais; era contrária a todo bom senso da evolução. Todavia, ela tinha que reconhecer que a catástrofe parecia ser um dos métodos da natureza.
Sentada, ela olhava uma vez ou outra pelas notícias menores e a notícia principal sobre elas: tudo parecia desapontamento. Alguns homens estavam conversando no mesmo compartimento sobre o mesmo assunto; um deles descrevia as obras de engenharia do Governo que ele tinha visitado, a enorme pressa que os dominava; o outro colocava interrogações e perguntas.
Não era muito confortável lá. Não havia janelas pelas quais ela poderia olhar; nas linhas principais, a velocidade era muito grande para os olhos; o longo compartimento coberto por uma luz amena cercava seu horizonte. Ela contemplava ao teto branco, as bonitas pinturas emoldurados a carvalho, os bancos fundos de mola, os suaves globos de luz acima que despejava a iluminação, e para uma mulher com uma criança que sentava diagonalmente oposta a ela. A seguir, o sinal soou, a vibração leve aumentou um pouco mais; e em um instante depois, as portas automáticas se abriram e ela saiu para a plataforma da estação de Brighton.
Ao descer os degraus em direção à praça da estação, ela notou um padre indo à sua frente. Ele parecia um senhor idoso ereto e forte, pois embora seu cabelo fosse branco, ele caminha com firmeza. Aos pés dos degraus, ele parou e fez meia volta e então, para surpresa dela, ela viu que seu rosto era de um homem jovem, de traços finos e forte, com sobrancelhas negras e olhos verdes bem brilhantes. A seguir, ela passou a frente e começou a atravessar a praça em direção à casa de sua tia.
Então, sem o menor aviso, exceto por um som agudo de cima, uma série de coisas aconteceu.
Uma grande sombra passou cruzando a luz do sol, um som dilacerante rompeu no ar, e um barulho igual a um suspiro de um gigante; ela ficar paralisada, com um ruido igual a dez mil chaleiras sendo amassadas, uma coisa enorme chocou-se no pavimento de borracha diante dela, preenchendo metade da praça, torcendo longas asas na sua parte superior que batiam e viravam como os asas de algum monstro extinto, soltando gritos humanos e logo começando algum ferido se rastejando.
Mabel não saberia o que iria acontecer, mas em um momento depois,ela foi empurrada por um forte pressão às suas contas, tremendo dos pés à cabeça frente a espécie de corpo de homem esmagado, gemendo e se arrastando a seus pés. Houve alguma articulação de palavras vindo dele; ela entendeu distintamente os nomes de Jesus e Maria; e a seguir uma voz sibilou de repente em seus ouvidos.:
“Deixe-me passar. Eu sou um padre.”
Ela permaneceu lá por mais algum tempo, perturbada pela rapidez de todo o ocorrido, e via o jovem padre de olhos verdes de joelhos, com sua casaca aberta e um crucifixo à mostra.Ela o viu se aproximar, fazer um sinal rápido com a mão, e ouvi um murmúrio de uma língua que ela não conhecia.
A seguir, ele se levantou, segurando o crucifixo diante dele, e ela viu que ele começou a caminhar no meio do pavimento cheio de sangue, olhando para lá e para cá em busca de um sinal. Descendo as escadas do grande hospital à sua direita, vieram figuras correndo, cada uma carregando o que parecia ser uma câmera antiga. Ela sabia quem eram aqueles homens, e seu coração se aliviou. Eles eram os ministros da eutanásia. Depois, ela sentiu algo tocar seu ombro e ser puxada, e imediatamente ela se viu na frente de uma multidão que estava gritando e se contorcendo de curiosas. Atrás, havia um força policial e civis que formara um cordão de isolamento.
FIM DO CAPÍTULO 1 – PARTE 2
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Um comentário:
A história ou estória está cada vez mais interessante.
Já se observa um prenúncio de algo maior a acontecer.
Obrigado, Valdemir.
Alexandre
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