terça-feira, 18 de setembro de 2007

Encontrando Lucy


Lucille Ball, a loira de Jamestown, Nova York e Desi Arnaz, o cubano de Havana, juntos como marido e mulher construíram um ícone em Hollywood, os Estúdios Desilu. Eles fizeram funcionar. Lucy, a comediante e Desi, um ator mediano, mas um produtor executivo brilhante, não somente construíram o estúdio, mas eram as partes vitais que o mantinham firme. Eles acertadamente se rodearam de experientes profissionais da velha guarda de Hollywood que sabiam de tudo sobre cinema e shows. Tiveram tanto sucesso que precisaram expandir, comprando dois outros estúdios. O estúdio original, que começaram alugando e mais tarde comprado pertencia a Joe Justman. Anos mais tarde, seu filho Bob Justman, seria parte da Desilu, que depois seria vendido por Lucy e assim fechar um capítulo triste da sua vida.


BOB: Meu pai e Desi se gostavam bastante e discutiam francamente sobre tudo. Papai sempre dizia que Desi era uma grande pessoa e um grande homem de negócios.

Anos mais tarde, por uma ironia do destino, fui trabalhar para Lucy em seu principal estúdio em Gower Street, que ela e Desi haviam comprado da RKO. Ela parecia não se acostumar com minha presença no local. Eu passava por ela e ela me olhava de cima para baixo. Eu não sabia exatamente se ela confiava ou suspeitava de mim, mas ela não chegava a ser hostil comigo.


Com a expansão do estúdio e dos negócios, os problemas diários comuns começaram a aparecer. Mas havia Lucy e Desi. Eles eram uma equipe; parceiros na vida privada e nos negócios. Contudo, o inimaginável aconteceu. Lucy e Desi se divorciaram, deixando para trás sucessos como I Love Lucy e Os Intocáveis.

Usando empréstimos, Lucy comprou a parte de Desi no estúdio. Desilu agora era de Lucy e com sua velha guarda de profissionais.

Lucy casou-se com novamente, agora com Gary Morton. Aparentemente ela estava feliz e não mais sozinha, mas Morton não entendia nada sobre um estúdio. Lucy sabia disso e quando os problemas eram demais para ela, ela ligava para Desi e lhe pedia conselhos. Ela confiava nele para negócios, não como marido.


HERB: O mundo do cinema é um mundo pequeno. Em 1974, em um escritório, eu me encontrei com Desi Arnaz. Desi, que tinha se mudado para o escritório vizinho, entrou no meu, abriu os braços para mim, e com um sorriso enorme, disse, “Amigo! Você é que está transando com minha esposa, Lucy? “ Eu balancei a cabeça no sentido de dizer não e sorri, esperando que este fosse o modo amigo de Desi dizer “olá”. Felizmente, era.


Lucy sabia muito bem o que era bom para seu papel de “Lucy”, seus redatores, seus atores, seus diretores, sobre o seu show. Mas não tinha a menor idéia de como lidar com as Redes e o pessoal de criação e também como manejar o jogo da produção de televisão. Não era o trabalho dela. Administrar um estúdio, criar novos pilotos e fazer séries de TV era o trabalho de Desi. Mas Desi tinha ido embora e os programas foram terminando e logo só restava um, o Show da Lucy.

A CBS precisava proteger seu investimento na Desilu. E tratou de arrumar alguém experiente para dirigir o estúdio. O contratado foi Oscar Katz, um executivo da CBS em Nova York.


HERB: O problema era que Oscar não falava a mesma “língua” local. Mas ele era muito qualificado em várias áreas, com programação, agências de publicidade, índices de audiência.


Logo se viu que ele sabia menos sobre o lado Hollywood da TV do que a própria presidente da Desilu, Lucille Ball, a preciosidade que a CBS estava querendo salvar.


HERB: No início de 1964, eu estava trabalhando para a NBC Burbank. Era minha segunda vez lá. Nesta segunda vez, eu queria trabalhar para Grant Tinker, então VP de Programação, Costa Oeste. Eu havia me encontrado com Grant há alguns anos quando eu era Diretor de Programas na Divisão de Filmes da NBC e Grant era VP da Benton & Bowles, uma importante agência de propaganda de N. York. Depois de um ano, meu emprego virou uma chatice e decidi buscar outros desafios. Fiz alguns telefonemas e mais tarde recebi um recado de Oscar Katz.

Eu conhecia Oscar quando eu estive na CBS. Retornei a ligação.

“Tudo bem, Oscar? O que está fazendo em Los Angeles?”

“Eu me mudei para cá,” ele respondeu. “Sou o novo diretor da Desilu.” Ele não parecia feliz.

“Legal.” O que posso fazer por você?”

A voz de Oscar soou mais séria. “Você conhece de estúdios, criação e pilotos?”

“Claro que sim,” disse.

“Você quer vir para cá e tomar conta destas coisas para mim? Sou um pouco peixe fora d´água por aqui.”

“Quando?”

“Assim que puder!”

Na manhã seguinte, conversei com Grant Tinker. Ele me desejou boa sorte e disse para manter contato.

“Manter contato? É claro que vou manter contato. Você é um dos três compradores no mundo corporativo da televisão!”

Uma semana depois, cheguei a Desilu (vizinho do estúdios da Paramount) e fui levado para meu escritório por um guarda. O estúdio parecia e cheirava a velho.

Pelo pouco tempo que estive no local, pude perceber a preocupação de Oscar.

Provavelmente, o último vestígio de Desi Arnaz no estúdio, além de parte de seu nome na placa de entrada, era seu escritório. Tinha painéis de madeira, acarpetado e decorado com muito bom gosto. Me disseram que Lucy raramente o usava depois que Desi saiu, preferindo dirigir sua empresa direto de seu bangalô-camarim de paredes amarelas. Mas agora, a sala de Desi tinha se tornado a sala de Oscar. Sentei-me com ele e discuti sobre o que ele esperava de mim. Oscar iria lidar com os assuntos mais corporativos do estúdio , enquanto que eu lidaria com a criação de séries, pilotos, redes e adjacentes. Após estabelecido isto, Oscar e eu andamos pelo estúdio (palco 12, onde se fazia o show da Lucy) onde eu a encontraria.

Lucy não estava contente com seu ensaio. Ela estava tendo problemas com o script, com o diretor, e com o cheiro de tinta no ar, uma das coisas que mais a incomodava. Lucy não gostava de ensaiar se a tinta nos sets ainda estava úmida e o odor permanecia no palco. Talvez não fosse o melhor dos momentos para conhecer Lucy, ou talvez fosse o melhor dos momentos para conhecê-la. Apertamos as mãos e sorrimos. “Faça alguns shows para o estúdio,” ela pediu. Eu disse que iria tentar.

Lucy disse depois, “Sou apenas a garota do palco 12. É isto que sei fazer.”

Eu concordei e disse, “Volte para seu ensaio,” e continuei, “Ele precisa de você.” Ela concordou e voltou para o ensaio, e eu fui embora. O tom e a conduta de nossa relação estavam estabelecidos: Eu faço o que sei fazer. Com exceção a algumas poucas ocasiões, este foi nosso modo de relacionamento pelos próximos quatro anos – até que eu pedi demissão alguns meses depois que Lucy vendeu o estúdio.

***

Próxima capítulo: O Grande Sonhador - O momento em que aparece Gene Roddenberry.


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