O Senhor do Mundo é um dos dois livros de ficção científica que Robert Benson escreveu, sendo este o mais popular – e o menos compreendido. Muitos consideram ser uma literatura profética e alguns outros uma crítica à sociedade Eduardiana. Bensou usou o tema da ficção científica da época, incorporando ideias como: a guerra que despontaria em 1914, máquinas voadoras, explosivos super poderosos, o crescimento do totalitarismo em um mundo secularizado. O livro O Senhor do Mundo de Benson é a única obra dele que permanece continuamente em edição desde a sua primeira publicação em 1907 até hoje. O Bispo Fulton Sheen chamou o Senhor do Mundo como uma das “três maiores obras apocalípticas da literatura que lidava com o advento do satanismo.” Benedito XVI, como Cardeal Ratzinger, antes de sua eleição ao papado, fez positivas referências ao livro em algumas de suas conversas.
Segue abaixo mais um capítulo do livro.
O SENHOR DO MUNDO, ROBERT BENSON
CAPÍTULO 4
PARTE 1
Na mesma tarde, Percy recebeu uma visita.
Não havia nada de especial sobre essa pessoa; e Percy, ao descer as escadas em trajes civis, olhou para ela ante a claridade da janela da sala, e viu que não o conhecia e nem sabia de que assunto, exceto que não era um Católico.
“O senhor queria me ver,” disse o padre, indicando uma cadeira.
“Sinto dizer que tenho que sair logo.”
“Não vou retê-lo por muito tempo,” disse o estranho ansiosamente. “ Meu assunto vai demorar apenas cinco minutos.”
Percy esperou com seus olhos baixos.
“Uma—uma certa pessoa me enviou ao senhor. Ela tinha sido católica; ela deseja voltar para a Igreja.”
Percy fez um pequeno movimento com a cabeça. Era algo que ele raramente ouvia nesses dias.
“O senhor virá, não? O senhor promete?”
O homem pareceia muito agitado; seu rosto pálido brilhava com suor, e seus olhos piedosos.
“Claro que irei,” disse Percy, sorrindo.
“Sim, senhor; mas o senhor não sabe quem ela é; Haverá um grande rebuliço, senhor, se ficarem sabendo. Não deve ser alardeado, senhor, o senhor promete, também?
“Não posso fazer promessas deste tipo,” disse o padre gentilmente.”Ainda desconheço as circunstâncias.”
O estranho molhou os lábios nervosamente.
“Bem , senhor,” ele disse apressadamente,” o senhor não dirá nada até que a tenha visto? Pode prometer isso?”
“Sim! Certamente,” disse o padre.
“Bem, senhor, é melhor que não saiba meu nome. Pode—pode ser mais fácil para o senhor e para mim. E—e, se puder, senhor, a senhora está doente; pode vir hoje, mas não até a noite. Poderia ser lá pela dez da noite, senhor?”
“Onde é?” perguntou Percy abruptamente.
“Fica perto da Estação de Croydon. Vou escrever o endereço agora. E o senhor não virá antes das dez?”
“Por que não agora?”
“Porque os—os outros podem estar lá. Eles estarão fora naquele horário; eu sei disso.”
Isso era um tanto suspeito, Percy pensou: alguns truques já eram conhecidos. Mas ele não poderia recusar de pronto.
“Porque ela não pediu para chamarem o padre da paróquia?” perguntou ele.
“Ela, ela não sabe quem ele é, senhor; ela viu o senhor uma vez na Catedral, senhor, e pediu pelo seu nome. Lembra-se, senhor?—uma velha senhora?”
Percy realmente lembrarara algo parecido há um mês ou dois; mas ele não tinha certeza.
“Bom, o senhor irá ou não?”
“Eu devo comunicar o Padre Dolan,” disse o padre. “Se ele me der a permissão---“
“Por favor, Padre—Padre Dolan não deve saber o nome dela. O senhor não dirá a ele?”
“Eu nem mesmo sei ainda,” disse o padre, sorrindo.
O estranho sentou-se abruptamente ante esta resposta, maquinando seus pensamentos.
“Bom, senhor, deixe-me dizer isto antes. O filho desta velha senhora é meu empregador, e um Comunista muito proeminente. Ela vive com ele e com a esposa dele. Os dois estarão fora hoje à noite. Esta é a razão pela qual eu estou lhe pedindo tudo isso. E então, o senhor irá?”
Percy olhou para ele com firmeza por alguns instantes. Certamente, se isto era uma conspiração, os conspiradores seriam fracos. A seguir, respondeu:
“Eu irei, senhor, eu prometo. Agora o nome.”
O estranho novamente umedeceu os lábios nervosamente, e olhou com receio para ambos os lados. A seguir, reunindo forças para falar; inclinou-se e sussurrou.
“O nome da velha senhora é Brand, senhor---a mãe de Oliver Brand.”
Por um momento, Percy ficou desconcertado. Era extraordinário demais para ser verdade.
Ele conhecia o nome de Oliver Brand muito bem; era ele quem, pela permissão de Deus, estava fazendo mais na Inglaterra nesse momento contra a causa católica do que qualquer outro homem vivo; e era ele que tinha ganho grande popularidade com o incidente de Trafalgar Square. E agora, aí estava sua mãe---
Ele olhou com firmeza para o homem.
“Eu não sei quem você é, senhor---se acredita em Deus ou não; mas você jura pela sua religião e pela sua honra de que tudo isso é verdade?”
Os olhos tímidos encontraram os seus, e confirmaram; mas era uma confirmação pelo medo e não por perfídia.
“Eu—Eu juro, senhor; pelo Deus Todo Poderoso.”
“Você é Católico?”
O homem negou com o gesto da cabeça.
“Mas eu creio em Deus,” disse ele, “Pelo menos, acho que sim.”
Percy inclinou-se para trás, tentando compreender exatamente o que tudo aquilo significava. Não havia o sentimento de triunfo na sua mente---este tipo de emoção não era sua fraqueza; havia o sentimento de emoção, atordoamento e acima de tudo uma satisfação de que a graça de Deus era tão soberana. Se ela podia chegar a esta mulher, quem mais não poderia sentir o mesmo efeito? Depois, ele percebeu que o outro o olhava com ansiedade.
“Está com medo, senhor? Não vai voltar atrás com sua promessa?”
Isso o fez Percy voltar a si, e sorriu.
“Ah! Não,” disse ele. Vou estar lá às vinte e duas horas… a morte é eminente?”
“Não, senhor, foi uma síncope. Ela se recuperou um pouco nesta manhã.”
O padre passou sua mão sobre os olhos e levantou-se.
“Bom, estarei lá,” disse ele. “O senhor vai estar lá também?”
O outro sinalizou com cabeça que não, se levantando também.
“Eu tenho que estar com o Sr. Brand, senhor; vai haver uma reunião hoje à noite; mas não devo falar disso….Não, senhor; pergunte pela Senhora Brand, e diga que ela o está esperando. Eles a levarão para o andar de cima em seguida.”
“Eu não devo dizer que sou um padre, eu suponho?”
“Não, senhor; por favor.”
Ele sacou de um caderno de bolso, rascunhou algumas palavras, rasgou o papel e deu ao padre.
“O endereço, senhor. Poderia fazer o favor de destruir assim que copiá-lo?
Eu-Eu não quero perder meu emprego, senhor, se isto puder ser evitado.”
Percy ficou dobrando o papel nos dedos por um instante.
“Por que você não é católico?” perguntou ele.
O homem meneou a cabeça sem uma palavra. Depois, pegou seu chapéu e foi em direção à porta.
* * * * *
Percy passou uma tarde de muito emoção.
Neste últimos meses, pouco havia acontecido que o tivesse animado. Ele tinha sido obrigado a relatar meia dúzia de secessões mais significativas e raramente uma conversão de alguma espécie. Não havia dúvida de que todas as forças estavam sendo colocadas contra a Igreja. O ato louco na Trafalgar Square, também, tinha feito um mal incalculável na semana passada; as pessoas comentando mais do que nunca, e os jornais atormentando, de que a confiança da Igreja no sobrenatural era desmentida por cada um de seus atos públicos. “Encoste em um Católico e encontre um assassino” era o texto de um artigo de fundo do New People, e o próprio Percy estava consternado ante a insensatez da tentativa.
Era verdade que o Arcebispo havia formalmente repudiado tanto o ato como a razão no púlpito da Catedral, mas isto também tinha servido como uma oportunidade rapidamente tomada pelos principais jornais, para lembrar as pessoas da contínua política da Igreja em se dispor da violência enquanto ela repudiava atos violentos. A morte terrível do homem não havia apaguizado a indignação popular; havia até sugestões de que o homem tinha sido visto saindo da residência do arcebispo uma hora antes da tentativa de assassinato.
E agora, com dramática rapidez, tinha chegado uma mensagem de que a própria mãe do heroi desejava se reconciliar com a Igreja, que tinha tentado assassinar seu filho.
* * * * *
Novamente naquela tarde, enquanto Percy rumava para o norte em sua visita a um padre em Worcester, com as luzes começando a brilhar com a chegada da noite, ele imaginava se aquilo não era mesmo uma armadilha—alguma especie de retaliação, uma tentativa de fazer uma cilada para ele. Contudo, ele havia prometido ir e que não diria nada.
Ele terminara sua carta diária após o jantar como sempre, com um curioso viés de fatalidade; endereçou-a e selou-a. A seguir, desceu as escadas, em seu traje civil, indo para a sala do Padre Blackmore.
“Quer ouvir minha confissão, padre?” disse ele abruptamente.
Parte 2
A Estação Vitória, ainda denominada segundo a grande rainha do século dezenove, não estava mais ou menos cheia do que o costume, ao chegar até lá meia hora depois.Na vasta plataforma, agora rebaixada cerca de sessenta metros abaixo do nível da superfície, corriam duas fileiras de pessoas, uma entrando e outra saindo da cidade. Aquelas na extrema esquerda, na direção a quem Percy começara a descer no elevador, eram mais numerosas e o fluxo da entrada do elevador fez com que ele se andasse com mais lentidão.
Ele chegou finalmente, andando sob a luz tênue no borrachão silencioso, ficando ao lado da porta do grande trem que trafegava direto pela estação. Era o último de uma série de dezenas que passavam de minuto a minuto. A seguir, ainda assistindo o movimento constante dos elevadores subindo e descendo por entre as entradas da parte superior da estação, ele entrou e sentou-se.
Sentia-se calmo desta vez. Ele havia feito sua confissão, apenas a fim de certificar-se de seu próprio espírito, embora pouco ansiando por qualquer perigo à frente, e sentado agora, com seu terno cinza e chapéu de palha, em nenhuma maneira distinguindo-o como padre ( pois era uma permissão geral era dada pelas autoridades para se vestir desta forma). Já que o caso não era iminente, ele não havia trazido a estola ou âmbula de hóstias—Padre Dolan tinha avisado de que ele deveria pegá-los se os quisesse da Saint Joseph, perto da estação. Ele tinha somente a faixa roxa no seu bolso, que era comum para chamados de pessoas doentes.
Ele estava viajando calmamente, fixando seus olhos no banco vazio do seu lado oposto, e tentando preservar seu aspecto contido, quando o trem parou abruptamente. Ele olhou para fora e estupefato, viu pelos passeios de cor branca esmaltada a uns seis metros da janela, de que eles já estavam no túnel. A parada podia ser por várias causas, e ele não se preocupou, nem pareceu que os outros no carro houvessem ficado também; ele podia ouvir, depois de um momento de silêncio, que a conversa havia sido retomada.
A seguir, ouvi-se o som ao longe, ecoado pelas paredes, de gritos e sons metálicos.O barulho foi aumentando. A conversa no carro parou. Ele ouviu uma janela sendo aberta e no instante a seguir um trem cruzou, indo de volta para a estação no contra-fluxo.Percy agora achou que algo estava acontecendo; assim ele se levantou e caminhou pelo compartimento vazio para uma janela mais à frente. De novo vieram o grito de vozes, os barulhos metálicos, e mais um trem passou, seguido quase imediatamente por outro. Houve uma retomada do movimento--- em um movimento suave. Percy se segurou e voltou ao seu assento, quando o carro onde ele estava começou a retroceder.
Houve um clamor desta vez no compartimento vizinho, e Percy caminhou até lá, passando pela porta, para ver que havia meia dúzia de homens com suas cabeças nas janelas, que não prestavam absolutamente nenhuma atenção para as perguntas dele. Assim, ele ficou lá, ciente de que eles não sabiam mais do que ele, esperando a explicação de alguém. Era ridículo, ele disse a si mesmo, que qualquer contratempo fosse desorganizar a linha.
Por duas vezes o trem parou; e finalmente foi volta à plataforma de onde havia saido, embora vários metros longe.
Ah! Não havia dúvida de algo tinha acontecido! No instante em que ele abriu a porta um grande barulho chegou a seus ouvidos e ao pular para a plataforma,olhou para o final da estação e começou a entender.
* * * * *
Da esquerda para a direita do imenso interior, através das plataformas, surgiu um enorme multidão, aumentando a cada instante. Os degraus de mais de vinte metros de largura, usado apenas em casos de emergência, pareciam uma gigantesca catarata negra de quase 60 metros de altura. Cada trem que chegava, descarregava mais e mais gente, que corriam como formigas para se reunirem com seus companheiros. O barulho era indescritível, o grito dos homens e das mulheres, o som estridente das enormes máquinas, e quatro ou cinco vezes o som de uma porta de emergência sendo escancarada acima , e uma pequena leva da multidão saisse por ela em direção às ruas. Mas após olhar novamente, Percy não olhou mais para as pessoas; e sim lá, no alto debaixo do relógio, no painel de informações do Governo, sairam grandes letras vermelhas, dizendo em esperanto e inglês, a mensagem pela qual ela achava que a Inglaterra se mostrava cada vez mais doente. Ele leu-a dezenas de vezes antes de se mover, contemplando, como se uma vista sobrenatural pudesse anunciar o triunfo quer do céu quer do inferno.
“CONVENÇÃO DO ORIENTE FOI DISSOLVIDA.
PAZ, NÃO MAIS A GUERRA.
IRMANDADE UNIVERSAL ESTABELECIDA.
FELSENBERGH EM LONDRES HOJE À NOITE.”
* * * * *
III
Não antes de duas horas depois é que Percy conseguiu chegar na plataforma.
Ele mal argumentou, discutiu, ameaçou, mas os oficiais estavam como homens possuídos. Metade deles tinha desaparecida na corrida para a Cidade, pois havia vazado a notícia, a despeito das precauções tomadas pelo Governo, de que a Casa de Paul, conhecida como Catedral de Saint Paul, seria a cena da recepção de Felsenburgh. Os outros pareciam dementes; um homem na plataforma tinha caido morto devido a exaustão nervosa, mas ninguém parecia se importar; e o corpo jazia enfiado debaixo de um banco. Novamente, Percy tinha sido levado pela multidão, enquanto ele batalhava de plataforma em plataforma em sua busca por um trem que o levasse a Croydon. Parece que não havia nenhum para lá e outros ainda vinham do interior, trazendo mais pessoas agitadas e em delírio, que sumiam como fumaça das plataformas. Estas viviam continuamente lotadas, e logo esvaziadas.
Bem, ele estava aqui finalmente, desgrenhado, sem chápeu e exausto, olhando para cima em direção às janelas escuras.
Ele ainda não conseguira entender o assunto todo. Guerra, é claro, seria terrível. E uma guerra como essa teria sido muito terrível para que uma imaginação pudesse vizualizar; mas para a mente de um padre, havia coisas ainda piores. Que paz universal – paz, por assim dizer, estabelecida por outros a não ser pelo método de Cristo? Ou estava até Deus atrás disso?
Perguntas sem respostas.
Felsenburgh—era ele então quem tinha feito essa coisa-essa coisa indubitavelmente maior que o evento secular até ali conhecido da civilização. Que tipo de homem era ele? Como era seu caráter, suas intenções, seu método? Como ele usaria este seu sucesso?... Estes pontos corriam diante da sua mente como um feixe de faíscas, cada uma, poderia ser, sem perigo; cada uma, igualmente, capaz de colocar o mundo no fogo. Enquanto isso, havia uma mulher que deseja se reconciliar com Deus antes de morrer…
* * * * *
Apertou o botão de novo, três ou quatro vezes, e aguardou. Daí, uma luz acendeu acima dele, que o fez entender que havia sido ouvido.
“Eu fui chamado,” exclamou ele para a empregada assustada. “Eu deveria estar aqui às vinte e duas: Não pude, devido ao rush.”
Ela balbuciou uma pergunta para ele.
“Sim, é verdade, eu creio,” disse ele. “ É paz, não haverá guerra. Por favor, leve-me para o andar de cima.”
Ele passou pelo hall com um curioso sentimento de culpa.. Era a casa de Brand, então--- aquele brilhante orador, tão amargamente eloquente contra Deus; e aqui estava ele, um padre, se infiltrando debaixo da cobertura da noite. Bem, bem, não tinha sido ele que arranjara o encontro.
À porta de uma sala de cima, a empregada virou-se para ele.
“Um doutor, senhor?” disse ele.
“Isto é assunto meu,” disse Percy rapidamente, abrindo a porta.
* * * * *
Um pequeno lamento veio de um canto, antes que ele tivesse tempo para fechar a porta.
“Oh! Graças a Deus! Achei que Ele tinha esquecido de mim. O senhor é um padre, senhor?”
“Sou um padre. Você se lembra de ter me visto na Catedral?”
“Sim, sim, senhor; eu o vi rezando, padre. Oh! Graças a Deus, Graças a Deus!”
Percy ficou ali olhando para ela por um momento, vendo seu rosto ruborizar naquela toca de dormir , seus olhos deprimidos e suas mãos trêmulas. Sim; isto era verdadeiro o bastante.
“Agora, minha filha,” disse ele, “fale.”
“Minha confissão, padre.”
Percy sacou de seu manto púrpura, colocou-o sobre seus ombros e sentou-se na beira da cama.
*** * * * *
Mas ela não queria deixá-lo ir logo depois disso.
"Diga-me, Padre. Quando irá me trazer a Sagrada Comunhão?
Ele hesitou.
"Eu entendo que o Sr. Brand e esposa não sabem nada sobre isso?"
"Não, padre."
"Diga-me, a senhora está doente?"
"Eu não sei, padre. Eles não contam para mim. Pensei que eu ia na noite passada."
"Quando a senhora quer que eu lhe traga a Sagrada Comunhão? Farei como quiser."
"Pode me enviar daqui a um ou dois dias? Padre, devo dizer a ele?"
"Não é obrigada."
"Eu irei se for preciso."
"Bem, pense a respeito, e me informe.... Ouviu o que aconteceu?"
Ela assentiu, mas um tanto desinteressada; e Percy sentiu um pouco de remorso no seu coração. Afinal, a reconciliação de uma alma a Deus era muito maior que a reconciliação do Oriente com o Ocidente.
"Pode fazer diferença para o Sr. Brand," ele disse. "Ele vai ser um homem famoso, agora, a senhora sabe."
Ela olhou para ele em silêncio, sorrindo um pouco. Percy estava maravilhado com a jovialidade daquele velho rosto. A seguir, sua face mudou.
"Padre, eu não devo segurá-lo; mas diga-me isso—Quem é esse homem?”
"Felsenburgh?"
"Sim."
"Ninguém sabe. Vamos saber mais amanhã. Ele está na cidade hoje à noite."
Ela olhou tão estranho que Percy, por um momento, achou que ela estava tendo um ataque. Sua face parecia cair um uma espécie de medo e receio.
"Bem, minha filha?"
"Padre, tenho um pouco de medo quando eu penso naquele homem. Ele não pode me trazer mal, pode? Estou segura agora? Eu sou católica---?”
"Minha filha, é claro que você está segura. Qual o problema? Como é que ele pode te fazer mal?"
Contudo, o olhar de terror ainda estava lá, e Percy deu um passo mais próximo.
"Você não deve dar vazão a fantasias, “ ele disse. “Apena cometa a si própria ao nosso Abençoado Deus. Este homem não te pode te fazer mal.”
Ele estava falando agora como se fosse para uma criança; mas não adiantava. Sua boca senil encolhida e seus olhos vagueavam pela escuridão do quarto.
“Minha filha, diga-me o que se passa. O que sabe sobre Felsenburgh? Você devia estar sonhando.”
Ela concordou respentinamente e energicamente, e Percy , pela primeira vez, sentiu seu coração acelerar de apreensão. Será que esta senhora estaria fora de si? Our por que será que o nome parecia sinistro? Depois, ele se lembrou que Padre Blackmore havia uma vez conversado desta maneira. Ele fez um esforço e sentou-se novamente.
“Agora me diga claramente,” disse ele.”Tem sonhado. O que tem sonhado?”
Ela levantou-se um pouco da cama, novamente olhando pelo quarto; depois, esticou sua mão,solicitando a dele e ele a deu, curioso.
“A porta está fechada, padre? Não há ninguém ouvindo?”
“Não, não, minha filha. Por que está tremendo? Não deve ser supersticiosa.”
“Padre, vou lhe dizer. Sonhos são bobos, não? Bem, pelo menos, isto é que eu sonhei.
“Eu estava em uma casa enorme; não sei onde ficava. Era uma casa que jamais tinha visto. Era uma destas casas antigas e estava muito escuro. Eu era uma criança e estava… com medo de alguma coisa. As passagens estavam todas escuras e fui chorar no escuro, procurando por uma luz e não havia nenhuma. Depois, ouvi um voz falando, muito longe. Padre---“
Sua mão apertou a dele com mais firmeza e novamente seus olhos correram pelo quarto.
Com grande dificuldade, Percy reprimiu um suspiro. Contudo, ele não ousou deixá-la agora. A casa estava silenciosa; somente do lado de fora, de vez em quando, ouvia-se o barulho de carros, ao passarem vindo da cidade congestionada, rumando ao interior, e também o som de muita gritaria. Ele desejava saber que horas eram.
“Não é melhor me dizer agora?” perguntou ele, ainda falando com muita calma. “A que horas ele estarão de volta?”
“Ainda não,” ela sussurrou. “A Mabel disse não antes das duas da manhã.Que horas são agora, padre?”
Ele sacou de seu relógio com a mão livre.
“Ainda não é uma,” disse ele.
“Muito bem, ouça, padre… eu estava nessa casa; e ouvi uma conversa; e eu corri pelas passagens, até que eu vi uma luz debaixo de uma porta; e aí eu parei… Mais perto, padre.”
Percy estava um pouco assustado. A voz dela tinha de repente caido para um sussurro, e seus velhos olhos pareciam retê-lo estranhamente.
“Eu parei, padre; não ousei entrar. Eu podia ouvir a conversa, e podia ver a luz; mas não ousei entrar. Padre, Felsenburgh estava naquela sala.”
Do andar debaixo, repentinamente veio o estalar de uma porta ; depois o som de passos. Percy virou sua cabeça rapidamente e no mesmo momento ouviu uma forte respiração da senhora.
"Silêncio!" ele disse. "Quem é ?"
Duas vozes estavam conversavam no hall lá embaixo agora, e ao ouvir este som, a senhora relaxou o aperto da mão.
"Eu—eu achei que era ele" ela murmurou.
Percy se levantou; ele podia ver que não estava entendendo a situação.
"Sim, minha filha," ele disse calmamente, "mas quem é?"
"Meu filho e sua esposa," ela disse; a seguir seu rosto mudou uma vez mais.
"Bem, padre---"
Sua voz murchou na sua garganta, ao ouvir passos lá fora. Por um momento, houve completo silêncio; depois um sussurro, bem audível, na voz de uma moça.
“Veja, a luz do quarto dela ainda está acesa. Entre Oliver, mas com cuidado.”
A seguir, a alavanca da fechadura da porta se mexeu.
Um comentário:
Espetacular nota sobre o Pe. Robert Benson!!!
Deveras, um livro muito interessante e inteligente.
Em breve, colocarei os textos no blogue excerptos, em vista da sua autorização, caro Valdemir.
Praza a Deus que um dia seja publicado!
Agradecimentos.
Alexandre
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