quinta-feira, 4 de outubro de 2007

UM GRANDE SONHADOR - PARTE 1

Continuamos aqui a publicar mais um capítulo do livro Inside Star Trek: The Real Story. Depois do capítulo destinado a Lucille Ball em cujo estúdio a série foi gravada, agora vamos conhecer o primeiro encontro de Herb Solow com Gene Roddenberry, o criador e o sonhador da série. A foto aqui ao lado é de Gene com uma dançarina no set de gravação do piloto The Cage.

HERB: Depois de meu encontro com Lucy, comecei a buscar redatores que iriam criar os pilotos para nós.

Tínhamos uma agência procurando para nós, chamada Ashley-Famous. Seu diretor era Alden Schwimmer. Ele representava vários escritores, entre eles, Rod Serling (o criador de Twilight Zone). Estes tipos de escritores estavam em muita demanda, estavam muito ocupados, muito caros e geralmente não disponíveis para clientes como a Desilu.

Mas Alden e a agência tinham muitos outros escritores: alguns bons, alguns ruins, alguns de sucesso, outros não. Em televisão, vc pode ser ruim e ter sucesso ou ser bom e ser um fracasso.

Recebemos dois destes escritores, e tão diferentes como dia e a noite. Um deles era Bruce Geller: graduado pela Yale, judeu, liberal. O outro era Gene Roddenberry, um batista do sul, vindo escola menos glamurosa. Contudo, ambos pareciam ter nascidos para aquele momento.

Muito se escreveu a respeito do histórico pessoal de Gene. Um pouco é fato; outro não. O próprio Gene, com o decorrer dos anos, costumava misturar fantasia com verdade. Sim, ele me dizia que fora piloto da Pan-Am que caiu no deserto da Arábia Saudita e havia tirado ele mesmo todos os passageiros a salvo, lutado contra um tribo de árabes e atravessado o deserto até chegar ao telefone mais próximo e pedir ajuda.

Sim, ele era um redator para episódios do Have Gun, Will Travel (Paladino, estrelada por Richard Boone). Ele não criou a série, mas foi um dos que mais escreveu em roteiros.

Sim, Gene foi um oficial de polícia para o departamento de policia de Los Angeles. Escreveia discursos para o chefe de polícia.

Sim, ele também criou e produziu uma série chamada The Lieutenant (O Tenente). A série não teve sucesso, durando menos de um ano. Assim, ele estava sem emprego. Foi quando ele entrou no meu escritório.

Era abril de 1964. Lydia Schiller, minha secretária, me chamou no intercomunicador, avisando que o Sr. Roddenberry havia chegado para a reunião. Embora eu nunca houvesse falado com Gene, mas tinha visto alguns episódios da série O Tenente e sabendo que ele fora um policial e ex-piloto, eu esperara que ele fosse um cara dinâmico e alinhado. “Obrigado, Lydia. Mande ele entrar.”

Ele abriu a porta e lá estava Gene Roddenberry. Minha primeira impressão foi a de um cara alto, desleixado e que acabava de aprender a se vestir, mas ainda não havia pegado o jeito. Ele sorriu e murmurou, “Olá, Sou...ahh... Gene Roddenberry. Ahh... Alden me enviou.” Aí ele me deu uma folha de papel meio dobrada no canto pelos seus dedos nervosos. “ Isto é uma idéia de um série. Chama-se Star Trek.”

Um mês antes disto, enquanto Gene estava ainda na MGM, acabando os episódios finais de O Tenente, ele entregou ao seu chefe e produtor executivo, Norman Felton, uma apresentação com 16 páginas da mesma idéia da série. Era sobre uma espaçonave que viajava pelo universo e se envolvendo com problemas. Felton, já conhecendo Gene, não quis saber.

A secretária de Gene, na época, era Dorothy Fontana. Ela gostou do conceito e depois de datilografar a apresentação, perguntou a ele quem poderia interpretar Spock. Gene disse a ela que ele já tinha decidido por Leonard Nimoy, um ator pouco conhecido que havia aparecido em um episódio de O Tenente junto com outra atriz pouco conhecida chamada Majel Barrett.

Gene estava ansioso na cadeira perto da minha mesa e olhava para mim enquanto eu li seu resumo no papel amassado. Eu entendi o motivo pelo qual Felton não se interessara pela apresentação de Gene. Mesmo sendo original, não era uma espécie de série de TV totalmente nova. Já haviam passado na TV séries como Captain Video e Space Ranger. No cinema, Buck Rogers e Flash Gordon já haviam coberto o assunto.Contudo, mesmo sendo o assunto familiar que Gene havia escrito, o conceito e os personagens que ele criou , e depois definiu e redefiniu melhor, eram muito interessantes. E ele resolveu uma dos problemas para ajudar na familiariedade do público, usando termos contemporâneos da marinha. Tinha capitão, ordenança, oficial médico, havia a estibordo, a bombordo, havia o U.S.S. Yorktown (mais tarde renomeado para Enterprise), em vez de Nave Foguete X-9. Apesar de tudo isso, precisava algo mais, Eu olhei para Gene, e antes que eu dissesse algo, Gene comentou que ele tinha escrito uma apresentação completa de 1 hora que incluia detalhes sobre os personagens e sobre a série.

“Eu gostaria de ler isto depois, “ disse a ele, “mas primeiro, vamos ver se podemos fazer um contrato para o desenvolvimento da sua idéia.”

Roddenberry fitou-me sem entender. “Você deve estar brincando. Você ainda não leu nenhum dos meus scripts.”

“Eu já vi como vc se veste”, disse, “e calculo que vc saiba escrever. Com certeza vc não vai ganhar a vida do jeito que impressiona os empregadores com suas roupas!”.

Eu fiz o contrato de desenvolvimento do script com Gene, e assim o processo começou.

Oscar Katz arranjou para Gene a apresentação da série para CBS, pois a Desilu estava interessada em mostrar serviço para a Rede.

Contudo, eu ainda tinha minhas preocupações. O conceito precisava de uma mexida e não estava pronto para ser vendido, porque uma vez uma Rede tenha rejeitado uma idéia, não havia como tentar novamente.

Não participei da reunião com a CBS. Gene me explicou mais tarde. O principal chefão da CBS estava presente, James T. Aubrey, Jr. Tanto eu como Oscar conhecíamos James. Ele conhecia bem televisão e sabia o que queria para a CBS. Ele era do tipo que era gentil como carneiro no começo da conversa, mas depois podia se tornar feroz como um touro antes que vc pudesse ter tempo para se esconder.

Oscar apresentou Roddenberry, e Gene nervosamente explicou sua série a todos os presentes, série na época apresentada como “Wagon Train to the Stars”, algo como “Caravana para as Estrelas”. Mas a CBS já tinha a Fox preparando uma série chamda “Lost in Space” , a famosa “Perdidos no Espaço” , e Star Trek seria o mesmo tipo de programa. Assim, a CBS não quis Star Trek. Eu disse para Gene que não aceitava as desculpas da CBS por não ter aceito a série. Nos últimos anos, a Desilu era conhecida como uma produtora de pequenas sitcoms (comédias de situação) de meia hora, com três câmeras de gravação e de repente, nós estávamos falando de uma série de uma hora, de ficção científica com efeitos especiais. O único efeito especial que era feito na Desilu na época, era Lucy tingindo seu cabelo de ruivo a cada semana.

FIM DA PARTE 1.

PARTE 2 NA PRÓXIMA SEMANA.

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